Democracia comprometida
“Já não é de hoje que a Igreja Católica vem abordando todos esses temas e contribuindo, através da Doutrina Social da Igreja, para a formação da consciência moral que esteja atenta à boa política (…)”
No já bem próximo 6 de outubro, “todos brasileiros têm um compromisso marcado com a democracia”! Para além de um slogan, a frase anterior soa cada vez mais como um alerta! E nesse sentido cumpre destacar dois vocábulos: “compromisso” e “democracia”.
Ainda que imperfeita, incompleta e multifacetada, a democracia tem sido o caminho pelo qual a humanidade tem buscado superar os tempos de barbárie tanto nas relações entre os povos quanto nas relações entre os grupos sociais, entre as pessoas e também entre os homens e a Casa Comum que habitamos. Não é difícil perceber que esse projeto tem falhado muito e em todas as esferas! Quanto mais enfraquecida e vilipendiada é a democracia mais regredimos, dando lugar a violências diversas, a guerras, a desigualdades e ao desequilíbrio ambiental. No sentido amplo, a democracia é o regime político em que o governo se exerce para o povo e pelo povo, em que as diferentes visões de mundo são debatidas visando a construção de políticas públicas eficazes para a manutenção do bem-estar da sociedade como um todo. Um dos seus componentes estruturantes é o sufrágio universal, isto é, a possibilidade de todos os cidadãos elegerem seus representantes a ocuparem os cargos políticos de governança. Mas, não só! A democracia se fortalece com a participação popular!
Daí, destacamos o outro vocábulo: “compromisso”! Que se flexionado nos leva a refletir sobre o que está comprometido? Tudo e todos! Desde o direito mais básico até a garantia de um futuro no planeta está comprometido. Da proteção aos mais vulneráveis, do acesso de todos à saúde integral, ao saneamento básico e à educação de qualidade, passando por uma economia sustentável até os desafios globais e locais do meio ambiente, tudo está comprometido pelo regime como se lida com suas fragilidades, se visando o bem comum ou os interesses de poucos. Por isso, flexionando novamente o termo, é necessário o comprometimento de todos para a governança daquilo que é vital para sociedade e para o meio ambiente.
Esse comprometimento começa com a participação nas eleições e não é apenas no dia da votação. É no entendimento de quais são as atribuições dos governantes, no caso agora, quem vai ocupar a prefeitura municipal e também dos legisladores que agora iremos escolher para compor a câmara municipal dos vereadores. É também na avaliação dos planos de governo, na trajetória dos candidatos, seus valores, suas ideias, suas realizações e sobretudo, da viabilidade de suas propostas. E ainda, depois de apuradas as urnas, no acompanhamento do mandato – e essa palavra já diz muito – daqueles que foram escolhidos para exercer tão importante papel social.
Para os católicos, esse comprometimento é fundamental. Já não é de hoje que a Igreja Católica vem abordando todos esses temas e contribuindo, através da Doutrina Social da Igreja, para a formação da consciência moral que esteja atenta a boa política, isto é, que seja uma decorrência ética do mandamento do amor. O Papa Francisco, na sua carta encíclica Fratelli Tutti, nos lembra que a melhor política é aquela que é um serviço ao bem comum, assegura o respeito a dignidade humana e promove a justiça social. E nas exortações Laudate Si e Laudate Deum, diante da crise climática, o Pontífice insiste que tenhamos atenção e cuidado, sabedoria e esperança em promover uma política que proteja e respeite nossa Casa Comum.
“Fazer política inspirada no Evangelho a partir do povo em movimento pode se tornar uma maneira poderosa de sanar nossas frágeis democracias e de abrir o espaço para reinventar novas instâncias representativas de origem popular”, declarou Papa Francisco.
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