Convocados pelo batismo
Em consonância com uma época em que o individualismo é exacerbado, o egocentrismo apregoado como virtude e a busca do prazer parecem a única razão de viver para as pessoas. Temos visto surgir no nosso meio diversos fenômenos religiosos que nos obrigam a refletir sobre o sentido de ser cristãos. Isso é particularmente importante nesse mês de agosto, que nossa Igreja dedica à reflexão da vocação.
Não apenas em novas “religiões”, mas, em grupos de fiéis de igrejas históricas, inclusive na nossa Igreja, percebemos pessoas que se aproximam do fenômeno religioso na busca de abundância, realização pessoal, prosperidade, enfim, de uma coisa que chamam “felicidade”, palavra que, no linguajar contemporâneo, é confundida frequentemente com consumir cada vez mais. Abundam também pessoas que se sentem religiosas, que creem em algo que chamam de “energia”, com a qual elas convivem e se relacionam individualmente, e isso as preenche na sua sede mística. São tentativas de conciliar a ânsia do divino com os apelos de uma sociedade que se perde na busca da realização individual máxima.
A vocação, o chamado de Deus ao cristão, que caracteriza a nossa mística, é bem diferente: antes da nossa busca, é Deus que nos chama. Chama a cada um de nós no batismo. Deus nos quer, mas nos quer sempre como um coletivo. O amor de Deus pelo coletivo, pela comunidade é tanto que Ele próprio se quer comunidade. A unicidade de Deus se manifesta na Trindade, que é uma perfeita comunidade. O Pai que nos criou se encarna entre nós no Filho que assume nossa vida e vem caminhar conosco. Irmão e mestre que nos ensina que nada é mais importante que o amor (ágape). Não um amor que quer ter, mas um amor que se entrega, que vive e morre por seus amados. E que nos ensina que quem quer achar a sua vida há de perdê-la. Que só vive realmente quem se dispõe a se perder, esvaziar-se doando-se totalmente aos outros. A terceira Pessoa, o Espírito Santo, nos é legada por Jesus como uma assistência permanente que nos impele à constante busca do outro, de todos os outros irmãos, para construir comunidades onde a Caridade, no seu senso de doação, seja a marca dominante, a identidade. “Assim saberão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros.”
Em uma sociedade que eleva ao valor máximo o egoísmo, a realização individual, a vocação cristã nos chama a nadar contra a correnteza para viver radicalmente a caridade como doação permanente aos outros, realizando em todos e cada um que nos cercam a presença viva de Deus Uno e Trino.