Além do que podemos ver


Por Wanderson Reginaldo Monteiro, bacharelando em Teologia pelo Instituto Cristão de Pesquisas (ICP)

27/03/2019 às 06h38- Atualizada 27/03/2019 às 07h25

Ao longo dos anos, o acesso à informação foi uma das coisas que mais evoluiu com as transformações causadas pela modernização. Com a popularização da internet, veio também a facilidade de acesso a inúmeras fontes de conhecimento, abrindo infinitas possibilidades para os desenvolvimentos profissional, pessoal e intelectual para todos aqueles que se interessam e querem agregar para si novos saberes, adquirindo novos conhecimentos sobre a vida e o mundo e, assim, apurando cada vez mais sua compreensão da realidade, estruturando sua cosmovisão.

Inquestionavelmente, a internet revolucionou para sempre os meios de acesso à informação e, somando isso à popularização dos smartphones, é possível ter acesso a qualquer informação à hora em que o usuário quiser, em quase todos os lugares do país. Além do acesso à informação com facilidade, rapidez e mobilidade, os smartphones também têm a capacidade de possibilitar a leitura de livros digitais, em vários formatos, tornando possível carregar bibliotecas inteiras dentro do bolso, para que os livros possam ser lidos onde, como e quando o usuário quiser!

Mas, infelizmente, se focarmos na facilidade de acesso à internet, o conhecimento das pessoas não cresceu na mesma proporção que a facilidade de acesso ao conhecimento e à cultura, e isso fica nítido quando observamos o que é postado nos inúmeros perfis espalhados pelas redes sociais. É triste ver tanta desinformação, tanta notícia falsa, tanta irresponsabilidade, imaturidade e falta de conhecimento das coisas, dos assuntos e das notícias compartilhadas. Umberto Eco, escritor e filósofo italiano, chegou a dizer que “as redes sociais deram voz a uma legião de imbecis”, e, diante das inúmeras coisas que vemos e lemos nas redes sociais todos os dias, fica difícil não se pegar se perguntando se ele não estava certo. Às vezes, me pergunto como Freud analisaria o fenômeno das redes sociais, e se o trabalho dele não teria sido mais fácil se ele vivesse em nossos dias, se olharmos pelo fato de muitos as usarem como uma forma de catarse.

Com a falta de interesse pelo conhecimento e pela verdade, muitas pessoas têm propagado a sua opinião particular como verdade absoluta e incontestável. É comum e corriqueiro ver pessoas sustentando uma opinião e levantando determinadas bandeiras sem conhecer a realidade dos fatos, sem conhecer os dois lados de uma determinada história ou discussão e baseadas inteiramente na sua própria visão dos fatos (que representa, na maioria das vezes, a sua própria vontade). Emitem seus juízos, como detentores da razão e da verdade, sem levar em conta o tamanho de sua ignorância e seu desconhecimento sobre os assuntos e os temas defendidos.

Arthur Schopenhauer, filósofo alemão, chegou à compreensão de que “todo homem toma os limites de seu próprio campo de visão como os limites do mundo”, e, com a popularização da internet e das redes sociais, na medida em que todos compartilham suas visões e compreensões de mundo, podemos perceber isso mais facilmente: muitos tomam a sua pequena e ínfima compreensão de mundo como a realidade do mundo em si, chegando até mesmo a pensar que o mundo e a realidade devem se curvar às suas ideias, rejeitando, muitas vezes de forma violenta, todas as visões, as ideias e os argumentos contrários aos seus.

Para não corrermos o risco de julgar todas as pessoas e coisas no mundo somente a partir de nossa compreensão pessoal, devemos procurar ter um maior conhecimento do mundo e das coisas que nos cercam, expandindo nossa compreensão de mundo através das inúmeras ferramentas que hoje temos à mão. O mundo, a vida e a realidade das coisas ao nosso redor, das que nos afetam e das que são propagadas, vão muito além do que muitos de nós podemos imaginar, e, quando nos fechamos em nós mesmos, nos apegando somente às nossas ideias e compreensão de mundo, somente à nossa visão, perdemos a chance de conhecer as coisas como elas são de verdade, perdemos a oportunidade de conhecer a vida e o mundo da forma que realmente são, e nos privamos de ter acesso ao conhecimento da realidade e da verdade, que são coisas de enorme importância para nossa vivência no mundo.

Este espaço é livre para a circulação de ideias e a Tribuna respeita a pluralidade de opiniões. Os artigos para essa seção serão recebidos por e-mail ([email protected]) e devem ter, no máximo, 40 linhas (de 70 caracteres) com identificação do autor e telefone de contato. O envio da foto é facultativo e pode ser feito pelo mesmo endereço de e-mail.

Os comentários nas postagens e os conteúdos dos colunistas não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é exclusiva dos autores das mensagens. A Tribuna reserva-se o direito de excluir comentários que contenham insultos e ameaças a seus jornalistas, bem como xingamentos, injúrias e agressões a terceiros. Mensagens de conteúdo homofóbico, racista, xenofóbico e que propaguem discursos de ódio e/ou informações falsas também não serão toleradas. A infração reiterada da política de comunicação da Tribuna levará à exclusão permanente do responsável pelos comentários.