Mineiro não é minério!


Por Sagrado Lamir David, médico e escritor

27/02/2019 às 06h48- Atualizada 27/02/2019 às 07h26

As palavras, de fato, se parecem. Mas, de fato mesmo, significam sentidos existenciais totalmente diferentes. Pois, enquanto “nossas” mineradoras solapam as profundas terras mineiras, na procura do minério, agora tão vil quanto o ouro, centenas de vagões se locupletam dele, para destinos internacionais, enquanto nossos pobres cidadãos perdem o mais econômico meio de transporte, e também o mais barato.

Eu mesmo, quando estudante e adolescente, só fazia minhas viagens ao Rio de Janeiro, a Belo Horizonte e a São Paulo de trem, pois, àquela época, felizmente, não havia essas perigosas estradas de rodagem – estradas de assassinatos e suicídios, pelas tragédias que se sucedem naquilo que chamamos de trânsito de veículos, de fato, trânsito da morte!

E o que o mineiro, cidadão consciente e patriota – lembrem-se de Tiradentes -, tem com essa volúpia do lucro a qualquer custo, pagando caro desde quando as mineradoras se instalam, desprezando os mineiros pelos minérios, até tragédias como as de Mariana e de Brumadinho, quando, de fato, já eram – pelo risco enorme aos cidadãos – criminosas mesmo. Tragédias anunciadas!

E põe a palavra crime em tudo isso, em que crime rima com lucro, ambição e corrupção, pois, mais do que qualquer corrupto, é aquele que vê no lucro algo superior ao conforto, à segurança e ao direito de viver de pobres seres, sejam humanos, sejam animais.

Nenhum progresso é desculpa para algo que traga risco aos desavisados cidadãos de qualquer parte. Pois o verdadeiro conceito de cidadania não tem pátria. Rima, ao contrário do lucro material, com aquilo que seria o verdadeiro lucro da humanidade e da própria condição vital: educação humanitária, segurança máxima para existir em paz e amor, tudo isso naquela abrangência essencial e, por que não, divina, do conceito eterno do viver e deixar viver!

Vamos e venhamos. A hora é agora! Nenhum progresso justifica nenhuma tragédia, e é preciso que os culpados passem também a pagar pelos crimes que cometem contra a humanidade, pois nenhum progresso justifica qualquer descaso contra a vida e contra a sobrevivência de nenhum ser vivo, seja humano, seja animal ou até mesmo vegetal.
Enfim… Viver e deixar viver!

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