O mundo hoje e há cem anos
Há cem anos, o mundo se encontrava em um dos mais sangrentos conflitos da história humana, a Grande Guerra (1914-1918), que matou dez milhões de pessoas, mutilou outras 20 e arrasou a economia global. A tensão europeia polarizou as grandes potências da época por motivos intrincados e até hoje discutíveis. Seja pelos antigos desentendimentos entre França e o Império Alemão ou pelo estranhamento entre a Sérvia e o Império Austro-húngaro, em 28 de junho de 1914, através de um ato terrorista, o exemplo de civilidade e progresso europeu deu lugar à barbárie e à catástrofe.
As consequências pós-conflito aumentaram o caos político e social no Oriente Médio (Síria, Iraque, Líbano e Palestina) e moldaram o fundamentalismo religioso contemporâneo devido à sua partilha e exploração pelos países vencedores do conflito (Império Britânico, França e EUA). Também forjaram as ideologias extremistas que assolariam o século XX através do movimento nazifascista de Hitler, do socialismo pervertido de Stalin e, consequentemente, a Segunda Guerra Mundial. Apenas os EUA submergiram como grande potência econômica, sendo oportunamente credores das nações europeias arrasadas.
Em 1917, o Brasil se encontrava em estagnação econômica, governado pelos eleitos da frequente fraudulenta “Política do Café com Leite”, refém da oligarquia, dependente da exportação cafeeira costumaz e sustentado pela massa de trabalhadores distante da plenitude de direitos políticos e civis. No dia 26 de outubro, pressionado pelo servilismo aos EUA, o Brasil declarou guerra ao Império Alemão depois de ter vários navios mercantes afundados por submarinos alemães, sendo o único país sul-americano a participar efetivamente do conflito, mesmo de forma modesta.
Cem anos depois, temos as novas potências belicistas na mesma tensão do passado. Os EUA e a Coreia do Norte se estranham, criando a possibilidade de uma nova guerra de proporção mundial; o terrorismo jihadista do Estado Islâmico já sangrou até agora Inglaterra, França, Espanha, Bélgica, Alemanha, Rússia e Suécia.
No Brasil, o colapso político, econômico e moral evidencia o contínuo governo corruptível e oligárquico, cuja miopia social sobrepõe interesses privado-individualistas aos público-coletivos que apenas oferecem soluções provisórias para problemas permanentes. Abaixo dessa situação, aparenta que as massas ainda observam a tudo “bestializadas”, ocupadas demais com Big Brother, futebol e uma brecha digital repleta de argumentos vazios. Incoerentemente alijado do poder dentro de um sistema democrático, o povo brasileiro não existe. Ele resiste.
Resumidamente, podemos constatar que, diante dessa distopia centenária, a sociedade contemporânea persevera em não aprender com seus próprios exemplos.
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