O recado das ruas
As manifestações históricas e legítimas da sociedade brasileira em defesa da educação deixaram bem claro aos dirigentes da pátria amada Brasil qual o caminho desejável a percorrer. Ficou claro que devaneios pseudo-orçamentários não serão levados a sério. Percebeu-se, com clareza, que a comunidade acadêmica, protagonista do movimento, tem perfeita consciência de seu papel. É bom relembrar que “idiotas úteis” já derrubaram um presidente, portanto, ofensas gratuitas, equivocadas e desnecessárias não serão toleradas.
Exemplarmente, caminharam juntas as escolas públicas, as privadas e as universidades. É necessário entender que o espaço acadêmico é o fórum legítimo de encontros e confrontos de ideias, da pluralidade de opiniões e da complexa e sedutora diversidade. É lá que se discutem, democraticamente, por pretos, brancos, amarelos e vermelhos, opiniões de todas as vertentes, e, como disse Nietzsche, esse conhecimento nos enche de espanto. E de encanto, acrescentaria.
É assim que se produz saber, pluralizando as visões de mundo, dos contraditórios, das teses e das antíteses, sem arcar com o peso do capital cultural dominante, como bem abordou Bourdieu. Pergunto, portanto, aos mandatários burocratas da terra brasilis se existe alguma fórmula capaz de fomentar a educação cortando recursos. É difícil aceitar que essa equação se sustente. Não é certo que estejam confundindo valor com riqueza? Já não basta a “balbúrdia” das escolas sucateadas, jogadas à sua própria sorte?
Enganam-se aqueles que definem o espaço acadêmico como sendo somente um local de formação técnica ou de mão de obra especializada. Isso é um grande erro. A escola é bem mais do que um repositório de alunos. Ali se reúnem histórias e projetos de vida. É onde se descobre o mundo; seus encantos e desencantos, bem além de suas notórias precariedades. Não se ataca uma escola; não se despreza a educação. Se este for o plano, é bom então que saibam as autoridades palacianas que não haverá um centímetro quadrado de espaço disponível nas ruas a serem ocupadas por gente que pensa. Até quando continuarão insistindo em ler a Alegoria da Caverna ao contrário? É preciso parar de ver sombras refletidas nas paredes e passar a caminhar em direção à realidade.
Quando teorias bizarras, aparentemente ingênuas, como as da terra plana, do antidarwinismo e do nazismo de esquerda, aparecem com frequência no imaginário popular, a preocupação com o saber científico se multiplica. A tentativa de desqualificação dos métodos científicos põe em risco a intelligentsia de um país mergulhado em sérios problemas sociais. Precisamos bem mais que retóricas e discursos vazios. Não há mais espaços para prosápias.
A inépcia das autoridades responsáveis por tamanhos equívocos não permite que percebam que, ao demonizarem a academia, promovem a sua resistência, demonstrando quanto ela é imprescindível na construção do pensamento crítico. A educação é o alicerce de toda nação. Sem ela, não há saídas possíveis. Foi esse o recado das ruas: “Me armem de livros e me livrem das armas”.