A miséria humana


Por Gustavo Alves Rattes, colaborador

23/10/2019 às 06h52

A miséria humana é a prova cabal da capacidade do homem de ser maldoso, insensato, assassino, covarde, desonesto, sádico ou miseravelmente desprovido de qualquer expectativa positiva daquilo que a vida pode lhe oferecer, arrebatando, de uma vez por todas, a sua dignidade.

Vivemos em um mundo de desigualdades humanas que distorce completamente o ser humano em si. O rico, apesar do dinheiro, pode estar mergulhado em dívidas, na depressão, nos seus transtornos mentais, bem como pode ainda estar inserido em uma célula familiar cheia de conflitos e divisões. O capital extingue a miséria humana? Não! E o pobre? Apesar da falta de dinheiro, ainda consegue suprir algumas de suas carências materiais pela afetividade, mas sofre as consequências das suas adversidades sociais.

O certo é que a miséria humana se destaca pela falta de ética, pelo padre, pastor, pai, tio e vizinho pedófilos e pelo político desonesto. Nessa onda, temos o marido e/ou a esposa que cometem o adultério, o playboy que cheira cocaína e fuma um baseado, os pais que não cuidam com zelo dos filhos, assim como estes que não honram pai e mãe. O que dizer dos homens que maltratam animais e os que desprezam suas dores, ignorando-os como seres sencientes?

O outro lado da miséria humana também pode ser destacada pelo homem machista, que considera a mulher tão somente como símbolo do lar, quando, na realidade, ela soube ganhar seu espaço em uma sociedade ainda bastante preconceituosa, com feminicidas covardes que, muitas vezes, encurralam suas vítimas dentro de casa, trazendo um sofrimento atroz e doentio, marcado pelo sentimento de posse.

O que dizer da miséria da fome de um prato de comida? E da miséria do amor, patinando nos interesses imediatistas e materialistas do ser humano? Temos ainda a miserabilidade religiosa daqueles que pregam a palavra de Deus e que, ao menor descuido, se precipitam no limiar do preconceito e da loucura, travestidos de enviados d’Ele! O fato é que o homem se depara como um ser vivente repleto de misérias e contradições. Dependente de suas angústias, ele se desvaira em uma fuga desequilibrada da multiplicidade de suas misérias, procurando abrigo no prazer desequilibrado de suas emoções e seus divertimentos. Segundo Blaise Pascal (Fontes, 2005), a única coisa que nos consola das nossas misérias é a diversão. E, no entanto, essa é a maior das nossas misérias.

Segundo Rousseau (Fleischacker, 2006), a desgraça e a miséria humana são causadas pelo próprio homem; as mazelas sociais encontram seu ponto de ignição nas ações e omissões do próprio homem, e somente a sociedade poderá reencontrar a liberdade e a igualdade, reconstruindo-as para que o cidadão possa atuar como um agente transformador da sociedade em que vive.

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