Ao menino da casa
É uma alegria para Juiz de Fora esta celebração (título de Cidadão Benemérito de Juiz de Fora) em homenagem a um filho da casa, a esse mineiro singular e exemplar que guarda a memória da terra e é portador da força das Gerais. Tudo nele é poesia habitada pela natureza. Alguém que capta na viola a narrativa essencial de nosso tempo e de nossa história.
Assim como Diadorim abriu a sensibilidade do jagunço Tatarana para as belezas “sem dono” da natureza, dos buritis, dos ventos e do manuelzinho-da-croa, assim também Tavinho Moura mantém acesa essa memória e luta por sua preservação. Sua vida e sua canção são expressões de uma natureza que vem sendo devastada pela ganância do humano. Ele nos sinaliza a beleza que não pode morrer. Como diz Fernando Brant, “Ele sabe das águas e dos peixes do São Francisco. É mestre no falar do povo que vive naquelas margens, naqueles barrancos”. Sua vida é o rio, as flores e os passarinhos; o joão-de-barro, as formigas e os cupins.
Aprendemos com Rosa a importância do São Francisco, esse rio que brota no território das Gerais, que é alimentado pelo Urucuia, em cujo chapadão tanto boi berra. O rio, como diz Guimarães Rosa no Grande Sertão: Veredas, “não quer ir a nenhuma parte, ele quer é chegar a ser mais grosso, mais fundo”.
Tavinho, com sua poesia, nos convida ao “maravilhamento” de ver “o rio que passa irrequieto até vazar nos olhos” e celebra conosco a alegria de ter um rio “e um barco no jardim”. Tudo isso se transforma em canção e em apelo, que é sério e solene: “Quem acorda o rio fica louco, esse é o castigo”.
É essa canção poética, adornada de natureza, do verdume que nos encanta e desperta, que celebramos nessa noite tão especial, para juntos relembrarmos que o “vau do mundo é a alegria” e também a coragem de manter acesa essa memória e essa beleza.
Tavinho, com sua viola, sensibilidade e criatividade inaugural, está a cada dia nos ensinando a reverberação do universo e, sobretudo, como diz Fernando Brant, “que a beleza existe”, que está “ao nosso lado e dentro de nós”.
É mais do que justa e necessária essa homenagem feita pela Câmara de Juiz de Fora, que nos enriquece como cidadãos, como pessoas. Ter Tavinho Moura como poeta juiz-forano é fator de responsabilidade, para todos nós, manter acesa a chama da alegria e a iracúndia sagrada de lutar em favor da preservação do verde e de todas as espécies companheiras, que estão ameaçadas nesse mundo em chamas. Vai deixando como rastro de mistério o violar e o “farrear no rumor do tambor”.