O Papa e seus títulos
Igreja em Marcha, equipe de leigos católicos
“Vigilate et orate (Vigiai e orai)!” “Ora et labora (Ore e trabalhe)!” Menos de dois meses se passaram, e 2019 já demonstra que tanto a súplica de Jesus quanto a Regra de São Bento serão imperativos de um tempo em que a vigilância, a oração e a ação não poderão esmorecer nem por um instante… Pelo menos, essa tem sido a tônica do ação apostólica do Papa Francisco. Se considerarmos que todos os títulos que Sua Santidade recebe não são meramente protocolares, mas que antes remetem às suas responsabilidades e prerrogativas diante de Deus e dos homens, Francisco, nesse pequeno e intenso período, faz jus e honra a cada um deles!
O próprio termo papa, que, para alguns, se trata de um acróstimo ou uma abreviatura, mais provavelmente provém de uma forma carinhosa de se dizer “pai” em latim. De fato, foi como um pai entusiasmado de seus filhos que Francisco se dirigiu aos jovens na Jornada Mundial da Juventude no Panamá, ao pedir que “não sejam o futuro de Deus, mas o agora de Deus!”. Sem descanso, ele afirmou que o termômetro que demonstrava o quanto foi válida a jornada era sua fadiga!
Quando se atribui ao Papa o título de Sumo Pontífice, refere-se às funções sacras e evangelizadoras dos sacerdotes, que, na carta aos Hebreus, são nomeados como “construtores de pontes”. Enquanto alguns se apegam à construção de muros reais e simbólicos, Francisco edifica pontes, sempre surpreendendo a Igreja e o mundo, ao concentrar suas viagens às periferias físicas e existenciais. Assim, numa visita inesperada aos Emirados Árabes, seguiu o Papa com o objetivo de fortalecer os laços de união com o Islã em busca da paz entre as religiões, pré-requisito para o nascimento da paz entre as nações. Lá, participou do encontro interreligioso internacional sobre a “Fraternidade Humana”, em que estiveram presentes 700 líderes religiosos de todas as confissões e afirmou: “Ou construímos o futuro juntos ou não haverá futuro!”.
Já o título de Vigário de Cristo remete à promessa de que Ele vai conferir a Pedro o poder de governar com zelo a Igreja em seu lugar, como seu vigário. Nesse sentido, o Papa Francisco não se esquiva de enfrentar os piores males que assombram a Igreja e sarar suas feridas. Como fizera com o padre Miguel d’Escoto, o Papa revogou todas as sanções canônicas existentes contra o Padre Cadernal, condenado por se envolver com a política de seu país, a Nicarágua.
Além disso, numa atitude histórica, convocou uma conferência sobre “A proteção dos menores na Igreja”, com a participação de bispos de todo o mundo. O Papa começou o encontro afirmando que, “diante da chaga dos abusos sexuais perpetrados por homens da Igreja em detrimento dos menores”, todos juntos e “com a docilidade” da condução do Espírito Santo, “escutemos o grito dos pequenos que pedem justiça”. A reunião tem a função tanto de organizar ações internas quanto de dar uma resposta à sociedade sobre as medidas de prevenção, combate e punição à pedofilia na instituição católica.
Mas o nome que ele próprio escolheu é surgido da frase “pode me chamar de Francisco!”. Seja pela opção preferencial pelos pobres, seja pela preocupação com a Casa Comum ou mesmo pelo diálogo interreligioso, Jorge Mario não poderia ser mais digno de lembrar o santo mendicante, irmão da natureza e de todos os homens. Já tendo lançado a encíclica Laudato sí, na qual se debruça sobre o cuidado com a Casa Comum, o Papa convocou um Sínodo especial dos bispos para tratar do tema: “Amazônia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral”, o que já tem gerado reações contrárias inusitadas no governo, mas que segue em seus preparativos.
De todos os títulos, entretanto, esses primeiros meses demonstram que o que melhor encerra o papado de Francisco é Servo dos Servos de Deus, que se justifica em Mateus 20:26-27: “(…) todo aquele que quiser ser grande entre vós, seja vosso servo; e, quem quiser ser o primeiro, seja vosso servo”. Como se diz na gíria dos jovens, chamados pelo Papa de “profetas alados”: fica a dica!
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