Usuários e traficantes
Uma das principais causas dos embates entre criminosos e policiais nas grandes cidades é o contrabando. São verdadeiras batalhas urbanas, em que se debatem contrabandistas comuns e, principalmente, traficantes com policiais. A polícia trava lutas sem tréguas em que busca extinguir o contrabando, penalizando contraventores.
Contrabando de vários produtos, mas principalmente de drogas. A sociedade deve ter consciência de que o comprador de droga, ainda que para seu uso pessoal, é um contraventor, um receptador de produto que circula através de crime, gerador desse terrível conflito causador de tristeza e morte, largamente conhecido pelas batalhas urbanas que promove entre policiais e contraventores, em que quem leva a pior, na maioria das vezes, são simples transeuntes, não raro crianças.
Diante do fato de não ser possível ao usuário de droga a sua aquisição por meios legais, todo aquele que fosse apanhado com tais produtos, ainda que para uso pessoal, deveria ser responsabilizado, pois estaria, no mínimo, na condição de receptador de produto de circulação ilegal. Se a droga não pode ser comercializada legalmente, o seu usuário deveria ser criminalizado também, diante do fato de estar comprando produto de tráfico, na condição de receptador. O usuário de droga deve ser conscientizado de que ele é também um “fora da lei”, também ele é um agente promotor de grave desequilíbrio social, pois contribui diretamente para a manutenção dessas lutas armadas entre quadrilhas que vivem do narcotráfico, em tiroteios que causam distúrbios urbanos e, não raro, levam muitos inocentes à morte.
Se o receptador de mercadoria que entra ilegalmente no país é passível de ser responsabilizado, por que o receptador de cocaína, de maconha e de outras drogas não o é?
Ninguém nega que os usuários são vítimas da droga, mas quase não lhes é lembrado que, ao mesmo tempo, são algozes dos inocentes que morrem diariamente nas batalhas promovidas pelos traficantes. Portanto os usuários não deveriam ser tratados apenas como vítimas. Deveriam ser conscientizados da responsabilidade que assumem ao contribuir, no sentido de que esse comércio ilícito continue.
Para que essa conscientização se efetive, é necessário que se estabeleçam fortes campanhas em vários setores da sociedade, no sentido de que ponham em relevo a parcela de culpa dos usuários, lembrando-lhes de que sem eles o tráfico de drogas não existiria. Campanhas que falem claramente não só dos danos pessoais que a droga lhes causa, mas também da sua parcela de responsabilidade nesse drama social desesperador que se apresenta aos nossos olhos diariamente. Nesse sentido, essas campanhas contra o uso de drogas deveriam ser mais explícitas, mais enfáticas ao se dirigirem aos usuários, buscando conscientizá-lo de que também eles estão à margem da lei, na condição de consumidores de produto que mantém a maior rede de criminosos que ensanguentam e enlutam o nosso país.