O que há de melhor em nós
“Conhecer a história do País é o mínimo para poder, depois, tecer alguma crítica estruturada sobre o ambiente onde você, leitor, vive”
Leitor, não sou habituado a escrever algo que fuja muito de um artigo de opinião em meus textos, mas um livro recém-lido talvez me faça quebrar esse costume. “Uma História da Música Popular Brasileira: Das Origens à Modernidade”, de Jairo Severiano, é um compilado dos principais movimentos e pessoas responsáveis pela construção da música brasileira ao longo dos anos. Com uma escrita elegante, o autor delineia a história musical do Brasil dividindo-a em quatro grandes blocos, quais sejam: A formação (1770-1928), A consolidação (1929-1945), A transição (1946-1957) e, por fim, A modernização (1958-).
Jairo é um dos mais gabaritados historiadores da música brasileira e, em linhas gerais, relata as histórias das nossas personagens com o mais absoluto respeito que merecem _ além da devida pesquisa. À guisa de um roteiro biográfico breve, ele as insere, também, nesse contexto mais macro do movimento a que elas pertenciam. Os mais diversos gêneros musicais são tratados com o mais absoluto respeito que merecem, estando a modinha e o lundu na base dos primeiros que tivemos em território nacional. Claro, houve outros músicos anônimos e figuras relevantes pregressas ao marco inicial da história da música dado pelo autor, porém não se inseriram no que ele chamaria de tradição da MPB.
Além disso, a leitura não é opaca e maçante, no sentido de que é possível perceber as contradições de cada época devido ao fluido encadeamento da narrativa proposta pelo autor, como, por exemplo, no caso do samba. O primeiro samba foi gravado em 1916 _ “Pelo Telefone” _ e continha, inicialmente, uma influência do maxixe muito evidente, mas foi capaz de se popularizar ainda mais quando se descolou de fato deste gênero. O maxixe, não obstante a riqueza da mescla de gêneros europeus e africanos, nunca foi aceito pelos setores da classe média. A primeira dança urbana brasileira foi ofuscada pela chegada de outros ritmos americanos e a ascensão do próprio samba. O samba usou o maxixe para projetar-se, mas este não pôde se salvar, tendo praticamente desaparecido ao longo da década de 1930.
Acredito francamente que o saldo do livro seja positivo para qualquer interessado em conhecer mais sobre o País. Adotando um tom mais pessoal agora, sempre gostei de conhecer mais do mundo que me cerca, para isso a História sempre foi a disciplina-chave, aliada às Ciências Humanas como um todo _ tão negligenciadas ultimamente. A música nacional nunca esteve desvinculada da política, quer seja quando D. João VI veio à sua colônia e trouxe gêneros europeus _ que, mais à frente, mesclar-se-iam aos nossos _, quer seja quando o Governo Provisório de Vargas assinou a lei que garantia a renda do setor radiofônico brasileiro _ com a permissão da reprodução de anúncios pagos. O rádio, tal como o cinema falado, a gravação eletromagnética e a televisão facilitaram a difusão e popularização das músicas brasileiras _ da “Era de Ouro” aos festivais da Record na década de 1960 e adiante.
Conhecer a história do País é o mínimo para poder, depois, tecer alguma crítica estruturada sobre o ambiente onde você, leitor, vive. Dá-se a chance de abrir teus horizontes, conhece tu mais sobre o que te antecedeu para fundamentar teu presente. Esse livro engrandecerá a sua formação enquanto indivíduo, eu o garanto!