CF 2019 e o cuidado com o irmão
A Campanha da Fraternidade de 2019 (CF 19), com o tema “Fraternidade e Políticas Públicas”, nos convida a refletir sobre a necessidade de romper com o preconceito comum de ver a política como “coisa suja”, demonstrando sua importância para a vida em sociedade. Assim sendo, seu objetivo geral é “estimular a participação em Políticas Públicas, à luz da Palavra de Deus e da Doutrina Social da Igreja para fortalecer a cidadania e o bem comum, sinais de fraternidade”.
“Preocupação é a palavra central da CF 19. Essa campanha nos indaga e surpreende como Deus a Caim: ‘Onde está seu irmão?’. Ser indiferente ao sofrimento de um irmão é responder a Deus com a mesma dureza de coração de Caim: ‘Por acaso, eu sou responsável pelo meu irmão?’. Preocupação com os pobres é o coração do Evangelho. Amar ao próximo é a vocação do cristão”, afirma o teólogo Élio Gasda.
De fato, a Igreja tem uma ampla atuação no meio da sociedade, mas reconhece que há ainda muitos caminhos a serem percorridos no sentido de sua opção preferencial pelos pobres. As pastorais sociais, por exemplo, têm uma atuação pautada na alteridade e no cuidado, que vai além do acolhimento e da caridade, em direção à promoção humana e à defesa dos direitos de todos. Tais iniciativas podem ser ampliadas e, por isso, a campanha quer despertar a nossa consciência para que possamos entrar, cada vez mais, no coração do Evangelho, onde os pobres são os privilegiados da misericórdia divina. (Texto Base, n. 10)
Todo cristão é convocado a participar da discussão e da elaboração e a acompanhar a execução das políticas públicas (TB, n. 12), para além dos limites da democracia meramente representativa, que muitas vezes está direcionada apenas pelo equilíbrio de interesses dos que já tem poder político e econômico.
“A prática da fé é um exercício político. É a fé norteadora das ações na defesa da dignidade humana. Sem políticas públicas não há justiça social, fraternidade, paz e, muito menos, espiritualidade. A fé sem obras é morta (Tiago 2, 26)”, completa o teólogo. Portanto a CF 19 quer discutir e compreender as políticas públicas para além do Estado, uma vez que as conquistas no campo social e público só foram possíveis graças à luta cotidiana da população por ver reconhecidos seus direitos.
Um exemplo de espaço para promoção de políticas públicas são os Conselhos Municipais. Na cidade de Juiz de Fora, são 27 conselhos que atuam nos mais diversos âmbitos da sociedade, sempre direcionados ao cuidado com o outro, mas que se encontram enfraquecidos. A CF 19 traz ainda muitas outras pistas de ações de efetiva participação, priorizando a solicitude e o cuidado com pessoas em situação de marginalização, exclusão e injustiça.
Infelizmente, só aumenta a contradição entre o crescimento econômico e o declínio social. De um lado, a concentração da renda e, do outro, a exclusão social.
Vivemos um contexto de ameaça às políticas públicas. “Diante do cenário em que tanto o Legislativo quanto o Executivo, com o apoio do Judiciário, têm como objetivo a retirada dos direitos, e com o capital nacional e internacional buscando apenas o lucro, ‘resistência’ deve ser a palavra-chave”, afirma dom Guilherme Werlang. Meias verdades não libertam, manipulam e escravizam. “Serás libertado pelo direito e pela justiça” (Is1,27), afirma o lema da Campanha.
Que a CF 19 “ajude todos os cristãos a terem os olhos e o coração abertos para que possam ver nos irmãos mais necessitados a ‘carne de Cristo’ que espera ser reconhecido, tocado e assistido cuidadosamente por nós”, são os votos a nós dirigidos pelo Papa Francisco.
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