O êxodo empresarial de Juiz de Fora


Por José Eloy dos Santos Cardoso, economista e professor de macroeconomia da PUC-Minas

22/02/2019 às 07h02

O editorial da Tribuna de Minas, publicado no último dia 15 sob o título “Êxodo industrial”, é muito mais sério do que possa parecer à primeira vista. O assunto não é novo, e o empresário Omar Peres, que foi dono da TV Globo de Juiz de Fora, foi candidato derrotado nas eleições para prefeito, embora tivesse acesa dentro dele a ideia de desenvolver para valer essa cidade que já foi, nas vozes locais, a capital da Zona da Mata. Vendo que faltava totalmente apoio dos políticos locais para brigar pelo desenvolvimento, desistiu por completo desta cidade, vendeu tudo que tinha aqui e se mudou “com mala e cuia”, como se diz, para o Rio de Janeiro. E ele estava com razão. O êxodo não é só industrial e abrange também o setor de serviços como um todo.

Não devemos, de jeito algum, jogar a culpa da transferência de empresas da Zona da Mata para o Estado do Rio de Janeiro por causa da lei da então governadora Rosinha Garotinho, quando ela abriu as portas daquele estado para que, por exemplo, empresas de Juiz de Fora se transferissem para Três Rios. O Estado do Espírito Santo, por sua vez e aos poucos, também já vai levando empresas mineiras para lá. As culpas não são das leis daqueles estados, mas dos políticos mineiros que, no lugar de olhar para seus municípios, estão buscando, na realidade, defender a si mesmos e a suas famílias, pouco ligando para as suas cidades de origem.

Lembro-me muito bem de quando a indústria de automóveis Peugeot estava interessada em se localizar em Juiz de Fora e procurou a ajuda da extinta Cia. de Distritos Industriais para que os estudos de localização fossem realizados. O espaço escolhido para a localização seria no distrito de Valadares, na saída para o Sul de Minas, praticamente perto do trevo da BR-040, que liga Belo Horizonte ao Rio de Janeiro. Todas as condições locacionais, como a existência de redes de energia elétrica, telefones, facilidades de captação de águas e outros fatores, estavam justamente dentro do que aquele grupo francês desejava. Foram até realizadas sondagens para verificar as condições de resistência do terreno.

Como o governador mineiro e os deputados da região foram fracos nesse aspecto de briga por uma empresa que traria mais impostos e empregos, o Estado do Rio de Janeiro não titubeou. Levou a indústria para lá, e Minas Gerais e Juiz de Fora perderam mais um empreendimento de porte. Só por esse exemplo podemos ver que o problema de Juiz de Fora não está nas leis dos estados do Rio de Janeiro e do Espírito Santo. O problema está justamente fixado na falta de prestígio e de interesses necessários de toda a classe política local.

O governador Romeu Zema é empresário de sucesso e conhece bem esses meandros e as “malandragens” do desenvolvimento. Se os políticos locais não se convencerem de que o problema de Juiz de Fora não está nas leis dos outros estados e que o desenvolvimento regional depende de todos, nada mudará. As altas taxas de ICMS de Minas Gerais podem ser motivo da expulsão de empresas, mas a falta de apoio político total é um problema que vem se arrastando através dos anos. Quando Omar Peres decidiu vender a TV Globo local e todos os seus bens em Juiz de Fora, ele estava com razão. O marasmo político de Juiz de Fora e região é o inimigo número um do desenvolvimento. Além do êxodo local, ainda temos o problema da não atração de outras empresas para cá.

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