Sob o signo da ideologia


Por Paulo Roberto de Gouvêa Medina, professor emérito da UFJF

21/04/2019 às 07h00- Atualizada 22/04/2019 às 07h27

Quando se julgava que o radicalismo das posições ideológicas perdera espaço na política, eis que o fenômeno ressurge. Em vários países, como se os tempos da Guerra Fria não tivessem passado e o muro de Berlim permanecesse intacto, correntes políticas timbram em proclamar-se de esquerda ou de direita e, quando alçadas ao poder, tomam sua ideologia como bússola. Esta, acima do interesse nacional, é que determina as ações do governo e orienta as relações internacionais, chegando, entre nós, ao extremo de direcionar financiamentos com recursos públicos.

Foi o que vimos, no Brasil, durante os governos de esquerda, disso resultando prejuízos consideráveis ao país, sobretudo no que diz respeito às generosas ajudas do BNDES a governos alinhados, como os de Cuba, Venezuela e Moçambique. Mas, se o cenário mudou, o novo governo parece, igualmente, dominado por uma linha ideológica de atuação, que, sem conduzi-lo aos mesmos vícios, nem por isso deixa de ser, do mesmo modo, viciosa.

É, antes de tudo, estranho que, a esta altura da evolução democrática, um governo aceite ser classificado como de direita. A direita, no Brasil, existiu, de forma organizada, quando não era uma ideia estranha no mundo, mas, antes, uma tendência dominante em países como a Alemanha de Hitler, a Itália de Mussolini, a Espanha, de Franco, e Portugal, de Salazar. Por essa época, tivemos o integralismo, que chegou a empolgar muitos intelectuais, influenciados pela liderança de Plínio Salgado. Anteriormente, no início dos anos 1930 do século XX, esboçou-se movimento semelhante, em Minas, com a Legião de Outubro, idealizada por Francisco Campos e outros. No regime militar, a chamada linha dura parecia pautar-se por métodos peculiares à direita, sem seguir, porém, um ideário próprio dessa corrente.

Assumir a condição de direita, nos dias de hoje, soa como algo démodé. Tal orientação política, marcada por uma visão do mundo pouco sensível à igualdade social e aos direitos fundamentais do homem, para a qual tudo se justifica em nome da ordem e da autoridade, tornou-se menos uma realidade do que um estigma comumente lançado pela esquerda contra quem não professe o seu credo. Por isso, quando se vê, hoje, alguém dizer-se de direita é surpreendente! E o que mais impressiona é que, assim como a esquerda, no Brasil, segue a palavra do dito “nosso guia”, a nova direita obedece também a um guru intelectual, até aqui ignorado no meio acadêmico, mas que, sem sequer residir no país, indica ministros e aponta caminhos.

O pêndulo do pensamento político precisa voltar ao centro democrático.

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