A neurociência do treinamento cerebral


Por José Aparecido da Silva, Professor da USP-RP

21/01/2020 às 06h54

Treinamento cognitivo, cerebral ou mental refere-se às atividades responsáveis por fazer as pessoas mais inteligentes e brilhantes, bem como de melhor raciocínio, solução de problemas e de aprendizagem. Muitos dos atuais programas que trabalham com os mesmos visam ao desenvolvimento de atividades cognitivas básicas (atenção, memória e trabalho) ou de funções executivas (controle e regulação do pensamento e ação). Originando-se da constatação de limites reais nas capacidades cerebrais, esses treinamentos diferem de indivíduo para indivíduo, são necessários para comportamentos complexos e inteligentes e altamente correlacionados a diferenças individuais na inteligência, no desempenho acadêmico e nos desfechos da vida. Ainda não completamente esclarecido, é sabido que o córtex pré-frontal é a região cerebral primária associadas a eles.

De modo similar, mas não computadorizado, outras tarefas foram usadas visando enriquecer a atenção e a memória. Como? Com intervenções incorporando esses processos básicos em jogos e ferramentas da mente, ocasionando que atividades mais complexas, concebidas capazes de transferir o mesmo mecanismo para habilidades similares ao raciocínio, sejam, algumas vezes, incorporadas a tais treinamentos. Um exemplo? As atividades demandantes de soluções de problemas. Por adição, as atividades desenvolvidas especificamente para enriquecer a cognição, algumas vezes denominadas de atividades complementares, como videogames, dança e música, entre outras, são usadas para enriquecer a habilidade de raciocínio e de solução de problemas.

Pergunta-se: “Em que extensão esses melhoramentos importam para outras atividades não treinadas?”. Para algumas delas, podemos admitir que a prática se transfere para outras situações. Um exemplo? Pense em um jogador de basquete, levantador e arremessador de pesos, que não só melhora nessas atividades básicas como também se torna um melhor jogador de basquete. Todavia deve ficar claro que a prática necessária para usufruir do benefício constante deve ser mantida.

Por outro lado, o grau em que melhoramentos baseados na prática se transferem para outras tarefas cognitivas é, todavia, um assunto controverso. Melhoramentos nas habilidades cognitivas são relevantes para uma ampla variedade de populações, desde idosos com capacidades cognitivas em declínio até pilotos de guerra que necessitam desempenhar sua capacidade máxima. Adicionalmente, crianças com desordens de hiperatividade e de déficit de atenção experenciam desde forte estresse inicial devido à pobreza, má nutrição e outros, podendo se beneficiar de intervenções cognitivas.

Assim considerando, treinamento cognitivo é relevante para qualquer um, mesmo para aqueles cujas habilidades estejam dentro da amplitude normal. Portanto não nos surpreende que tantas pessoas estejam interessadas em treinamento mental. De fato, o interesse público nas atividades designadas à melhoria das atividades mentais básicas é, no mínimo, tão antigo quanto a tradição budista.

Este espaço é livre para a circulação de ideias e a Tribuna respeita a pluralidade de opiniões. Os artigos para essa seção serão recebidos por e-mail ([email protected]) e devem ter, no máximo, 30 linhas (de 70 caracteres) com identificação do autor e telefone de contato. O envio da foto é facultativo e pode ser feito pelo mesmo endereço de e-mail.

Os comentários nas postagens e os conteúdos dos colunistas não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é exclusiva dos autores das mensagens. A Tribuna reserva-se o direito de excluir comentários que contenham insultos e ameaças a seus jornalistas, bem como xingamentos, injúrias e agressões a terceiros. Mensagens de conteúdo homofóbico, racista, xenofóbico e que propaguem discursos de ódio e/ou informações falsas também não serão toleradas. A infração reiterada da política de comunicação da Tribuna levará à exclusão permanente do responsável pelos comentários.