Condutores da esperança
“O sorriso nervoso de um aluno de Medicina que atendia pela primeira vez um paciente me trouxe de volta a esperança”
O sorriso nervoso de um aluno de Medicina que atendia pela primeira vez um paciente me trouxe de volta a esperança.
Não que eu a tivesse perdido… mas “ela saiu para dar uma volta e demorou para retornar”. Ela estava sendo consumida pelos olhares apáticos dos alunos em sala de aula, nas ausências frequentes nos cenários de práticas (onde se aprende de fato) para estudar para prova, na pressa de ir embora sem nenhuma dúvida para questionar o professor. Ela estava distraída com os celulares e suas redes sociais, que tornam os jovens especialistas em relações virtuais, mas os distanciam cada vez mais das relações humanas “ao vivo e a cores”.
Esta distância fica ainda maior quando do outro lado da mesa encontra-se um idoso. A dor no estômago queixada por este não vem sozinha. É sempre acompanhada de uma história rica de encontros e desencontros que marcaram sua vida e também o seu adoecimento. A distância até a maca tem um tempo maior para ser percorrido, e a informação muitas vezes não é ouvida nem entendida da primeira vez. É um paciente que faz parte de uma geração que tinha o costume de sentar para fazer as refeições com a família (momento que era reservado para saber “como foi o seu dia?”).
Por outro lado, hoje vivemos em uma época em que as informações são compartilhadas no momento em que acontece e o tempo todo. Não existe mais aquele intervalo, que era o tempo da viagem, o percurso para o trabalho, o trajeto para a escola… e, portanto, não cabe mais a pergunta “como foi seu dia?”, porque ele já foi compartilhado na rede social. Isso muda as relações, a comunicação entre as pessoas e a distância entre elas.
Mas a esperança voltou! Foi trazida pelo aluno que, quando sentou na “cadeira do médico”, olhou em minha direção e sorriu. Perguntei se estava apreensivo, ele me respondeu que sim, pois “era a primeira vez que atendia uma pessoa”.
Sua atitude demonstra uma empatia pelo seu primeiro paciente. Uma noção de responsabilidade pela sua conduta, um receio de não estar preparado o suficiente.
Não é mais uma aula ou uma nova técnica. Representa algo bem mais complexo: a relação humana. E aquela da época do vovô!
Olho no olho, pega na mão, sente o cheiro e as reações. Não por emoticons, mas pela linguagem não verbal (que só pode ser percebida na vida real).
Na semana do professor e do médico, venho aqui homenagear alunos como este, que são condutores da esperança e o grande motivo de, pretensiosamente, continuarmos a ensinar.