O peso de um segredo


Por José Aparecido da Silva, Professor visitante na UFJF

20/08/2019 às 06h03- Atualizada 20/08/2019 às 07h19

Segredos pessoais fazem parte do cotidiano de muitas pessoas. Todavia manter sigilo é estressante e nocivo à saúde. Devido ao fato de os descritores usados para descrever segredos serem semelhantes aos que descrevem o desconforto de carregar um fardo físico, como “estou cabisbaixo”, “estou carregado” ou “estou pesado”, estes sugerem que um segredo é, metaforicamente, conceituado como uma carga física. Assim conceituando, espera-se que, da mesma forma que carregar uma carga física afeta os julgamentos, as avaliações, a memória e a atenção, carregar um segredo, analogamente, teria os mesmos efeitos, uma vez que segredos podem variar tal como o peso físico, sendo muito sérios, como a infidelidade conjugal de um amigo, ou orientação sexual deste, ou até uma inofensiva mentira.

Interessante e curiosa pesquisa examinou que manter segredos sobrecarrega as pessoas, afetando as ações como aquelas que ocorrem quando as pessoas carregam peso físico. Para isso, quatro estudos foram realizados: (1º) examinou-se se carregar um segredo influenciaria o quão íngreme as pessoas percebem uma montanha, similar a carregar peso físico; (2º) examinou-se se a distância percebida era sensível ao peso físico; (3º) testou-se se a frequência de pensamentos sobre um segredo prediria o esforço percebido, requerido para tarefas físicas e (4º) testou-se se, suprimindo um segredo, influenciaria o comportamento no sentido de ajudar alguém, ou em alguma coisa.

Os resultados do primeiro estudo sugeriram que a conexão metafórica entre segredos e carga física influencia a percepção, ou seja, os segredos afetaram os julgamentos tanto quanto os fardos físicos o fizeram: quanto maior o segredo, tanto mais íngreme as montanhas pareciam. O segundo estudo revelou que pensar sobre segredos onerosos levam participantes a atirar um dado alvo para além de sua cesta, sugerindo que eles percebem uma maior distância para o alvo, ou, em outras palavras, que as distâncias parecem estar mais longe do que, realmente, estão. O terceiro estudo indicou que a frequência de pensamento sobre um grande segredo, tal como omitir uma infidelidade, conduz a um maior peso aparente, o que é similar a quanto mais oneroso o segredo, mais ele pode corresponder a uma carga física. O quarto estudo demonstrou que, suprimindo um segredo, assemelha-se a tornar os participantes fisicamente estafados, implicando menos comportamentos pró-sociais considerando as tarefas físicas.

Tomados juntos, quanto mais onerosos forem os segredos, bem como quanto mais pensamentos são devotados a eles, tanto mais percepção e ação foram influenciadas de modo similar a carregar pesos físicos. Logo, do mesmo modo como ocorre com um fardo físico, segredos fadigam as pessoas. Melhor, então, deixar para cofres e cartórios a incumbência de guardar segredos.

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