Nem escola, nem professor


Por Mario Eugenio Saturno, tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano

18/10/2019 às 06h58

A passagem do Dia do Professor, em 15 de outubro, é um bom momento para reflexão da profissão, do local de trabalho, do investimento governamental etc. Pode-se fazer um resumo da situação: o Estado gasta muito, o professor ganha pouco, e as escolas estão destruídas. Tantos políticos, e não conseguimos uma solução para os problemas.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou, em junho, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), referente ao ano de 2018, com uma informação escandalosa: quatro em cada dez brasileiros com mais de 25 anos nem concluíram o ensino fundamental, ou seja, mais de 53 milhões de pessoas. Se somado aos que foram mais adiante, mas não completaram a educação básica, passa da metade da população, 52,6%, ou mais de 70 milhões de pessoas.

A pesquisa mostrou que, em 2018, existiam 47,3 milhões de pessoas de 15 a 29 anos, e, destes, 23% não estudavam nem trabalhavam, quase 12 milhões de brasileiros, a já conhecida geração “nem-nem”, e essa taxa é maior entre as mulheres, com 28,4%. Já entre os homens, o índice é bem mais baixo, chegando a 17,6%. Os afazeres domésticos são responsáveis por afastar da escola 24,2% das mulheres; já para os homens esse é o motivo para 0,7%.

É muita gente sem uma ocupação produtiva ou que não esteja estudando ou se qualificando. Porém o trabalho, ou a procura dele, também é obstáculo para não estudar. Dos homens com idade entre 15 e 25 anos, 47,7% estão fora da escola ou de cursos de qualificação e, entre as mulheres, o número chega a 27,9%. Mas não é o único motivo, um quarto dos homens simplesmente não tem interesse em estudar. Já para as mulheres o desinteresse é menor, 16%. A motivação ao estudo é ponto importante que os que fazem as políticas públicas devem considerar.

Porém os dados não são desanimadores quando se observa a evolução histórica. Em 2017, 40,9% da população brasileira acima de 25 anos não tinha o fundamental; agora, é 40%. Já o índice de pessoas que não terminaram a educação básica chegava a 53,8%, e agora é 52,3%.

O IBGE ainda verificou quanto tempo de estudo o brasileiro tem, ou seja, na média, tem 9,3 anos de estudo. Como precisa-se de 16 anos, em média, para formar alguém no nível de escolaridade superior, ou seja, universitário, faltam quase sete anos de estudos. Não há grandes diferenças considerando o sexo, pois os homens estudam nove anos, e as mulheres estudam 9,5 anos.

Mas a diferença é maior se considerarmos a “cor da pele”, pois os brancos têm, em média, 10,3 anos de estudo, enquanto os negros têm 8,4 anos. Já o Nordeste é a região do Brasil onde a população tem menos tempo de estudo: 7,9 anos. E, claro, a região Sudeste é a com mais tempo de estudo, com 10 anos.

E o dado mais assustador: o Brasil ainda tem 11,3 milhões de analfabetos entre a população de 15 anos ou mais, equivalente a 6,8% dessa população. E a melhora sobre 2017 foi ridícula, apenas 0,1 ponto percentual, ou 121 mil analfabetos a menos.

Sai governo, entra governo, e pouco muda… Com uma situação tão difícil, como esperar melhora quando o próprio ministro da Educação escreve errado e confunde Kafka com kafta?

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