Problemas de mobilidade urbana


Por José Luiz Britto Bastos, especialista em Engenharia de Transportes

18/06/2019 às 06h39

Juiz de Fora caminha aceleradamente para uma mobilidade urbana insustentável. No mundo, inúmeras são as medidas que vêm sendo aplicadas para solucionar esse problema. Na verdade, as cidades não possuem mais espaço público a oferecer para automóveis. O planejamento viário agora tende a aplicar medidas restritivas ao uso do automóvel. Não há alternativas. Sem essas providências, o trânsito das cidades para.

As cidades não podem se tornar reféns de um trânsito constantemente congestionado. Um trânsito que irrita, atrasa, polui e custa caro ao país, sobretudo, pela queima de combustíveis fósseis, cujas reservas estarão extintas, no máximo, em 60 anos. Os deslocamentos diários das pessoas para trabalho, estudo e lazer precisam se efetivar com maior celeridade e qualidade.

Nossa cidade, infelizmente, só dispõe de um modal de transporte público: o rodoviário. Mesmo assim, de péssima qualidade, ineficaz no atendimento da demanda com qualidade. Ninguém confia no transporte público de JF.

Hoje em dia, qualquer pessoa tem automóvel e prefere usá-lo em seus deslocamentos. A cidade não dispõe de uma rede cicloviária, por isso, não usa a bicicleta como modal de transporte. Além disso, a acomodação nos impede de caminhar a pé, ainda que para pequenas distâncias. Em JF, o automóvel tem tratamento prioritário, e de um modo geral, todos querem estar num mesmo lugar, ao mesmo tempo e na mesma hora. Esse é o problema! Na superfície, o espaço público está exaurido e não passa pela cabeça do cidadão que a solução para a cidade está na implantação de um transporte público de massa subterrâneo. Só assim o automóvel fica em casa, e a superfície, aliviada.

Juiz de Fora não é uma cidade planejada. Se não houver planejamento, os principais corredores de transportes vão se formando aleatoriamente, qual uma colcha de retalhos. Construir uma nova rede viária para o transporte público é muito difícil. Isso custaria muito aos cofres públicos, que estão quebrados, salvo algumas exceções. Por outro lado, não dá para se acomodar; é preciso encontrar alternativas. Niterói (RJ) é uma cidade do mesmo porte da nossa.

Recentemente, lá implantaram o sistema de BHLS (Bus of High Level of Service), ou seja, um serviço de transporte de nível elevado e versátil que trabalha em corredores seletivos e comuns ao mesmo tempo e, por isso, utiliza ônibus com portas dos dois lados. Mais ou menos o que projetamos para a nossa Av. Getúlio Vargas, com plataformas de embarque e desembarque centrais e proibição da circulação de automóveis pela via.

Há, no entanto, uma certeza: a alternativa para melhorar a mobilidade urbana tem que passar pela redução da circulação de automóveis nas ruas. Para isso, será necessário taxar os congestionamentos, a quilometragem rodada, estabelecer o rodízio de veículos, desestimular o estacionamento público (com tarifas mais elevadas) e/ou eliminar vagas nas vias. Experiências internacionais ganham destaque a partir de um detalhamento de todo o processo de implantação de tais medidas, como ocorreu com sucesso nas cidades de Singapura, Londres e Estocolmo.

Este espaço é livre para a circulação de ideias e a Tribuna respeita a pluralidade de opiniões. Os artigos para essa seção serão recebidos por e-mail ([email protected]) e devem ter, no máximo, 40 linhas (de 70 caracteres) com identificação do autor e telefone de contato. O envio da foto é facultativo e pode ser feito pelo mesmo endereço de e-mail.

Os comentários nas postagens e os conteúdos dos colunistas não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é exclusiva dos autores das mensagens. A Tribuna reserva-se o direito de excluir comentários que contenham insultos e ameaças a seus jornalistas, bem como xingamentos, injúrias e agressões a terceiros. Mensagens de conteúdo homofóbico, racista, xenofóbico e que propaguem discursos de ódio e/ou informações falsas também não serão toleradas. A infração reiterada da política de comunicação da Tribuna levará à exclusão permanente do responsável pelos comentários.