Paz regeneradora


Por Iriê Salomão de Campos, Comunidade Espírita A Casa do Caminho

16/04/2016 às 07h00

Toda pessoa consciente de seu papel existencial traz no íntimo um sonho de paz. Paz em seu mais amplo sentido, decantada em prosa e verso, paz desejada nas festividades de fim de ano e até como saudação: “muita paz”. Mas o conceito de paz entre nós é ainda bastante rudimentar, para não dizer primitivo. Crê-se na paz com o silenciar dos canhões, no aperto de mão dos estadistas para uma foto, que de tão repetida tornou-se caricata. Vê-se a paz como a submissão deste para aquele, ou do repouso improdutivo sob os cuidados do serviçal humilhado. Na emoção comum e corriqueira, desfrutar a paz significa ter atingido o status das garantias sociais, dentro das quais possa o cidadão vegetar na improdutividade irresponsável.

Leitores um tanto distraídos assustam-se ao ler a seguinte afirmativa de Jesus: não cuideis que vim trazer a paz à Terra; não vim trazer a paz, mas a espada (Mateus, 10:34). Se uns desatentos se chocam com tal ensino do Mestre de Nazaré, outros, esperta e maldosamente, utilizaram as palavras do Cristo para justificar incontáveis atrocidades de centenas de guerras, algumas absurdamente chamadas de guerras santas.

Aquele que de livre vontade entregou-se ao madeiro sofrendo a morte dolorosa para exemplificar perpetuamente a dignidade da elevação moral não endossaria estes destorcidos entendimentos de paz. A espada simbólica do Cristo traz consigo a luta pessoal, regeneradora. A ponta da espada é a bússola que indica o norte do aperfeiçoamento de si mesmo. É a batalha sem guerra, a luta sem sangue, o combate que não soma vítimas, que não produz viúvas nem órfãos.

O Cristo de Deus, o exemplo da paz, trouxe ao mundo a luta renovadora, a espada da bondade divina contra o mal do egoísmo, da falta de solidariedade, da ganância escravizadora e da mentira que corrompe corações, almas e nações. Este é o único caminho para se atingir a paz almejada. Por isso, a espada erguida pelo Mestre jamais fez brotar qualquer gota de dor alheia; o combate ensinado pelo Carpinteiro consiste na união de todos, cientes e capazes de ouvir e atender, em toda plenitude, a conclamação do Altíssimo: paz na Terra aos homens de boa vontade.

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