Medicina Paliativa x Cuidado Paliativo
Cuidado paliativo é uma abordagem que, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), busca qualidade de vida para paciente-família diante de doenças que ameaçam a continuidade da vida; devendo abordar medidas preventivas e terapêuticas para o sofrimento em todas as suas dimensões (física, emocional, espiritual e social). Cuidado paliativo é trabalho em equipe multiprofissional, atuando de forma coesa e falando sempre a mesma linguagem. Medicina paliativa é o trabalho isolado do médico, que se especializou em medicina paliativa, mas dentro de toda filosofia de cuidado pregada pelo cuidado paliativo.
Cuidado paliativo não é medicina alternativa. É medicina igual a qualquer outra área médica. É baseado em evidências e algo bem concreto e estudado há anos. Lá fora é algo já mais solidificado. No Brasil, ainda é algo mais recente, mas em processo franco de solidificação nos próximos anos. Medicina paliativa no Brasil é reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) como Área de Atuação Médica (subespecialidade) desde 2011.
E o que seria essa doença ameaçadora da vida? Seria uma doença crônica com potencial de letalidade. Exemplificando, um quadro de câncer incurável, doença cardíaca avançada, doença pulmonar avançada, doença neurológica avançada, doença crônica avançada e por aí vai. O que é isso? O estado de saúde é comprometido com uma doença aguda, que, dependendo da resposta do organismo do indivíduo, pode se resolver ou não. Não se resolvendo, essa doença se torna crônica (geralmente com três a seis meses de quadro evolutivo).
Toda doença crônica (incurável) evolui, progride. E em algum momento ela se tornará avançada, ou seja, vai gerar graves agravamentos ao indivíduo que a possui, como: perda de memória significativa a ponto de necessitar de auxílio constante; não deambular mais e necessitar de ajuda constante para ações básicas, como o banho, o se vestir, etc.; emagrecimento importante a despeito de ingesta alimentar razoável; infecções e internações recorrentes com piora da funcionalidade (farei aqui uma analogia com o termo “energia do paciente”).
Aos poucos, o organismo de um indivíduo com doença crônica e avançada vai entrando em várias falências orgânicas (cérebro, coração, pulmão, rins, etc.), gerando um contexto de doença crônica tão avançada que chamamos de doença terminal. Terminal a doença, sempre, que está em franco processo de piora. O indivíduo, jamais. A pessoa continua sendo a pessoa, com toda sua individualidade e biografia únicas!
Pensa: você gostaria de ser chamado de “paciente terminal”? Não! Então, terminal é a doença, sempre! Quando uma doença se torna terminal, geralmente imaginamos um tempo pela frente de seis meses ou menos (com exceções, é claro!). O morrer é um processo que dura vários dias… O indivíduo começa a te alertar com vários sinais/sintomas. Esse morrer se finaliza com uma fase de agudização (dentro de todo esse contexto crônico), na qual o indivíduo apresenta sinais/sintomas concretos que predizem um tempo de horas a poucos dias de vida. E assim se finda o viver! Num contexto crônico, que se tornou avançado e, depois, terminal. Um processo, portanto, que o indivíduo e sua família vivenciam dia após dia. Um processo!
Mas onde entram o cuidado paliativo ou a medicina paliativa? Num contexto de doença crônica, e, principalmente, num contexto avançado, é indiscutível que a atuação do cuidado paliativo ou da medicina paliativa aconteça! Quanto mais cedo a abordagem paliativista começar, mais poderá ser feito para melhorar a qualidade de vida do paciente e sua família (e entes queridos). O sofrimento deve ser amenizado sempre. Paliar é proteger e cuidar, jamais abandonar. Paliar é cuidar da vida enquanto ela existir. Paliar não é antecipar e nem postergar a morte. Paliar é caminhar junto, ao lado, no mesmo passo que o paciente e a evolução de sua doença. A vida é finita. O nascimento é cercado de cuidados, e o morrer e a morte não devem ser diferentes. Um morrer digno é um direito de todo ser humano. Por um viver, morrer e morte dignos sempre!