Diálogo e esperança


Por Murílio Hingel, Ex-ministro da Educação e do Desporto - 1992/1994

14/01/2020 às 06h52

A educação é básica para o desenvolvimento do Brasil. O MEC não tem políticas apropriadas: planejamento, competência, continuidade. Há críticas incabíveis ao grande educador Paulo Freire: de “energúmeno”, passa a responsável pela baixa qualidade da educação. À linguagem extemporânea soma-se julgamento descabido.

O pernambucano Paulo Freire (1921-1997) viveu 16 anos no exílio – Bolívia, Chile, Estados Unidos, Suíça. Recebeu dezenas de títulos, publicou dezenas de obras, vertidas em dezenas de línguas. É educador reconhecido internacionalmente.

O “fac-símile” do manuscrito Pedagogia do Oprimido (1970) exprime seu pensamento: “Não há diálogo (…) sem esperança. A esperança está na raiz mesma da inconclusão dos homens da qual se movem em permanente busca. Busca (…) que não pode dar-se no isolamento, mas na comunhão dos homens”. O atual governo não dialoga e anula a esperança de melhoria da educação.

Ao assumir o MEC, em outubro de 1992, os reitores das universidades federais solicitaram audiência: questões financeiras dificultavam o ano letivo. Disse-lhes que trabalharíamos pelo objetivo que nos unia – a melhoria da educação. Mediante diálogo, foi possível avançar, envolvendo a educação superior e a básica.

A esperança nasceu com participação no Encontro na China (fevereiro de 1993) para avaliar resultados do seu Plano Decenal de Educação, desenvolvido após sua participação na Conferência de Jomtien (Tailândia/1990), convocada pela Unesco e por outros. O Brasil participou, sem avanços.

Era necessário começar de imediato. Resultados surgiram: projeto, debates nos níveis de governo e em 45 mil escolas (mínimo de cem alunos), confluindo na Conferência Nacional de Educação (agosto de 1994): mais de mil participantes, com a presidência de Itamar Franco. A conferência aprovou o Acordo Nacional de Educação para Todos – Pacto pela Valorização do Magistério e Qualidade da Educação, firmado em 19 de outubro de 1994, por mim e pelos presidentes de Consed, Fórum dos Conselhos Estaduais, Conselho de Reitores, Undime, CNTE.

O compromisso de qualidade do magistério, com uma escola de cidadãos, estava estabelecido: a ESPERANÇA, construída com DIÁLOGO e a COMUNHÃO de educadores. O planejamento teve continuidade: Fundef, depois Fundeb (piso salarial do magistério) e o I e II PNE.

Há muito a construir com DIÁLOGO que sustente a ESPERANÇA. Isso não se percebe no governo brasileiro, que, entre feitos, ditos, indecisões, desmerece a pessoa de Paulo Freire.

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