O que vai acontecer agora?
“O que vai acontecer agora?” Perguntava o cobrador do ônibus para o motorista, em uma acalorada conversa sobre quais seriam os próximos passos do processo de impeachment, que, naquele dado momento, acabava de ser aprovado pela Câmara dos Deputados, ainda presidida pelo agora afastado, Eduardo Cunha. Eu, que acabara de chegar em Juiz de Fora, vindo de Teresópolis, percebi o resumo da votação assim que entrei no ônibus em direção a minha casa. As múltiplas conversas no ônibus revelavam que a votação era favorável ao impeachment da presidente, ao mesmo passo que revelavam também outro importante ponto frequentemente levantado pelo cobrador, motorista e mesmo eu: a dúvida.
A dúvida aqui não é meramente um detalhe passível de ser ignorado. Ela é, talvez, em toda sua imprecisão, o único ponto preciso em toda discussão sobre a crise política que vivemos. O processo de impeachment, como tem se tornado de conhecimento geral, estende-se por um grande rito legal e jurídico, que, em tese, serve ao propósito de garantir o caráter democrático do processo de impedimento. Porém, em mais uma das ironias da vida política, este processo não poderia estar mais distante da Demos, ou seja, do povo. A cada nova etapa do processo do impeachment, mais dúvidas surgiam, e a frase “O que vai acontecer agora?” ia sendo repetida. Não obstante, as inúmeras reviravoltas e surpresas que os noticiários nos informavam apenas reforçavam a ideia de que a única certeza é a incerteza.
Não se trata, porém, de ignorância política. Acredito piamente que as visões paternalistas a respeito do conhecimento político de nossa população são equivocadas e que o brasileiro compreende através de sua vivência os desdobramentos da política em sua vida. Os trâmites do processo, suas justificativas e suas consequências políticas são de desconhecimento da população, na mesma medida em que houve um esforço de marginalizar as informações básicas a respeito do processo. Este é um sintoma comum das manchetes políticas do nosso país; falamos de corrupção com frequência, mas dedicamos pouquíssimo tempo para discutir sua origem e funcionamento. Com o impeachment de Dilma Rousseff não foi diferente, discutimos muito as razões para saída ou permanência da petista, mas pouco discutimos as razões e especificidades do mecanismo de impedimento. O resultado não poderia ser outro, uma sensação generalizada de dúvida e incerteza em relação ao futuro, que não cessa ou se esvai, mesmo com o esforço de ambos os lados de construírem alguma espécie de projeção do futuro.
Não me restam dúvidas, portanto, de que os próximos momentos da vida política continuarão a ser marcados por uma profunda e intensa dúvida e incerteza sobre o que nos aguarda politicamente. A não ser que nos comprometamos com uma discussão pública que não escanteie informações sérias a respeito de política, estaremos sempre à mercê de uma incerteza angustiante, que nos bota em uma incômoda posição de espectadores, quando deveríamos ser nós os protagonistas da vida democrática. Esta talvez seja a única e pequena certeza que deixo neste texto, pois devo admitir que também estou acometido por dúvidas.