Senso comum
A impressão que nos causam as atitudes de certos homens públicos é a de que eles perderam o senso comum. Refiro-me a este sentimento que permite ajustar a conduta humana aos padrões médios de comportamento, fazendo com que as pessoas procurem agir em sintonia com os valores do meio em que vivem. O senso comum é uma espécie de bússola da convivência social, tão importante, no plano das relações humanas, quanto o bom senso, na esfera do raciocínio e das tomadas de decisão. Quem assistiu à sessão da Câmara dos Deputados que deliberou sobre o impeachment da presidente da República pôde verificar, claramente, o que, aqui, se afirma. As declarações então ouvidas pareciam revelar que os seus autores estavam dissociados da realidade do país ou que pouco se importavam com a sua repercussão junto à sociedade brasileira. Viviam uma cena teatral ou, como já foi dito, um espetáculo circense.
Por outro lado, a presidente afastada, não satisfeita em apresentar aos seus concidadãos uma versão maquiada das contas públicas, usando, para tal, expedientes que violaram a Lei de Responsabilidade Fiscal, ainda insiste em chamar de “golpe” o processo a que responde e no qual, não obstante, se defendeu e se defende, amplamente. Fala para os seus adeptos, ignorando a maioria da nação, ou como se vivesse num mundo à parte.
E o vice, chamado a assumir, interinamente, a Presidência da República, logo surpreende, negativamente, o país, mostrando-se insensível à opinião pública ao atribuir a liderança do Governo a um deputado sobre o qual pesam graves denúncias e que, além do mais, é ligado à figura controvertida do presidente da Câmara, afastado das funções de seu mandato por decisão do Supremo Tribunal, porque se valia do cargo para influir na tramitação do processo contra ele aberto no Conselho de Ética da Casa. O episódio da escolha (ou da aceitação) do líder pelo presidente lembra a desastrada atitude de Getúlio Vargas, que foi a gota d’água para sua deposição, em 1945. Chegando ao paroxismo de um espírito autoritário, Getúlio nomeou o irmão, Benjamin Vargas, homem de conceito duvidoso, para a Chefia de Polícia do Distrito Federal, à época, cargo estratégico no setor da segurança pública. Uma charge do cartunista Pericles, em “O Cruzeiro”, registrou, com humor, o fato político. Nela, o “Amigo da onça” surge, sorrateiramente, sugerindo a Getúlio: “Nomeia o Bejo”. Michel Temer, tantos anos depois, parece ter ouvido também a voz do “Amigo da onça”…
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