A Igreja Católica diante da crise política


Por Luís Eugênio Sanábio e Souza, escritor

12/05/2016 às 07h00- Atualizada 02/03/2018 às 13h23

Considerando que as coisas terrenas e as que transcendem este mundo se encontram intimamente ligadas, a Igreja permanece atenta diante dos problemas políticos e, dentro de sua missão estritamente religiosa, e não política, pode e deve propor os valores universais do Evangelho para assim favorecer a justiça e o bem comum, pois Cristo é a “Boa Nova de valor eterno” (Apocalipse 14, 6).

O memorável Papa São João Paulo II, que tanto lutou pela justiça social, afirmou que “a Igreja respeita a legítima autonomia da ordem democrática, mas não é sua atribuição manifestar preferência por uma ou outra solução institucional ou constitucional” (Encíclica “Centesimus Annus” n° 47). O Papa emérito Bento XVI explicou que a Igreja “não pode nem deve se colocar no lugar do Estado. Mas também não pode nem deve ficar à margem na luta pela justiça. Deve inserir-se nela pela via da argumentação racional e deve despertar as forças espirituais, sem as quais a justiça, que sempre requer renúncias também, não poderá se afirmar nem prosperar.

A sociedade justa não pode ser obra da Igreja; deve ser realizada pela política. Mas toca à Igreja, e profundamente, o empenhar-se pela justiça, trabalhando para a abertura da inteligência e da vontade às exigências do bem” (Papa Bento XVI: Encíclica “Deus caritas est” n° 28).

Segundo a doutrina católica, “não cabe aos pastores da Igreja intervir diretamente na construção política e na organização da vida social. Essa tarefa faz parte da vocação dos fiéis leigos, que agem por própria iniciativa com seus concidadãos” (Catecismo da Igreja Católica n° 2.442).

“A Igreja não tem modelos a propor. Os modelos reais e eficazes poderão nascer apenas no quadro das diversas situações históricas, graças ao esforço dos responsáveis que enfrentam os problemas concretos em todos os seus aspectos sociais, econômicos, políticos e culturais que se entrelaçam mutuamente. A esse empenhamento, a Igreja oferece, como orientação ideal indispensável, a própria doutrina social que – como se disse – reconhece o valor positivo do mercado e da empresa, mas indica ao mesmo tempo a necessidade de que estes sejam orientados para o bem comum” (Papa São João Paulo II: Encíclica “Centesimus Annus” n° 43). Ao explicar que a missão da Igreja não é de ordem política, econômica ou social, mas sim de ordem religiosa, o Concílio Vaticano II citou o Papa PIO XII que disse assim: “É preciso não perder nunca de vista que o objetivo da Igreja é evangelizar e não civilizar. Se ela civiliza, é pela evangelização” (Concílio Vaticano II: Constituição Gaudium et spes n° 42 e 58).

Feitas estas considerações, pode-se compreender que a posição atual da CNBB é de respeito à autonomia política. “Conclamamos o povo brasileiro a preservar os altos valores da convivência democrática, do respeito ao próximo, da tolerância e do sadio pluralismo, promovendo o debate político com serenidade. Manifestações populares pacíficas contribuem para o fortalecimento da democracia. Os meios de comunicação social têm o importante papel de informar e formar a opinião pública com fidelidade aos fatos e respeito à verdade” (CNBB: Declaração sobre o momento nacional, 10° parágrafo).

“É desejável que também a linguagem da política e da diplomacia se deixe inspirar pela misericórdia, que nunca dá nada por perdido. Faço apelo sobretudo àqueles que têm responsabilidades institucionais, políticas e de formação da opinião pública, para que estejam sempre vigilantes sobre o modo como se exprimem a respeito de quem pensa ou age de forma diferente e ainda de quem possa ter errado. É fácil ceder à tentação de explorar tais situações e, assim, alimentar as chamas da desconfiança, do medo, do ódio” (Papa Francisco).

Os comentários nas postagens e os conteúdos dos colunistas não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é exclusiva dos autores das mensagens. A Tribuna reserva-se o direito de excluir comentários que contenham insultos e ameaças a seus jornalistas, bem como xingamentos, injúrias e agressões a terceiros. Mensagens de conteúdo homofóbico, racista, xenofóbico e que propaguem discursos de ódio e/ou informações falsas também não serão toleradas. A infração reiterada da política de comunicação da Tribuna levará à exclusão permanente do responsável pelos comentários.