‘Sem conservante, lucro natureba’


Por Tribuna

11/08/2016 às 07h00- Atualizada 11/08/2016 às 08h09

No dia 31/07, leio no jornal “O Globo” (caderno Economia) o artigo “Sem conservante, lucro ‘natureba'”. Analisando-o, volto o pensamento 40 anos atrás, quando estávamos às voltas com um projeto-piloto – provavelmente único na época – para uma horta orgânica a partir do húmus de minhoca com o objetivo de propiciar uma alimentação saudável aos nossos comensais.

Tínhamos um terreno de 200.000m² na área da CDI e contratamos, então, um biólogo uruguaio (prof. Victor Del Mazo), que, com seus 90 anos, era, na época, uma das maiores autoridades na criação de minhocas. Iniciamos, então, o que era, talvez, um sonho: a experiência-piloto com cerca de 2.500 minhocas. Aprendi que, como elas são hermafroditas, quando nascem em janeiro, chegam a dezembro já bisavós.

Resultado, com pouco tempo, tínhamos um plantel de quase cinco milhões de minhocas, e sobravam húmus e horta. Chegamos a colher um chuchu de 700g. Partimos, então, para o projeto final, e, como a palavra indica, foi realmente o final. A CDI torceu o nariz quando um sábio engenheiro de sua equipe fulminou: “Distrito Industrial com um projeto de minhocultura?”.

O tempo passou, o projeto foi abortado, e vieram os franceses e tomaram conta do nosso mercado. Hoje, lendo o artigo, vejo que outros franceses (da Danone) acabam de adquirir, por US$ 12,5 bilhões, a americana White Wafe Foods, gigante em alimentos orgânicos, justificando a aquisição como totalmente alinhada com as novas tendências de consumo.

Pergunto: estão eles preocupados, realmente, com a saúde de quem come ou com os lucros de uma ideia ou um ideal?

Liberté, Egalité, Fraternité “é o cacete”, como diria nosso querido Ancelmo Gois.

PS: o terreno acima citado, hoje, é parte da planta industrial da Mercedes-Benz.

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