Impunidade da Vale


Por Paulo César de Oliveira, jornalista e diretor-geral da revista Viver Brasil e do jornal TudoBH

10/12/2019 às 06h58

Não se pode negar a importância da mineradora nascida Companhia Vale do Rio Doce, hoje simplesmente Vale, na história da economia mineira e, sem exageros, do mundo. O minério extraído pela companhia das entranhas de Minas abasteceu os aliados na Segunda Guerra e foi fundamental na recuperação do Japão, arrasado na guerra. Mas toda essa fantástica história da empresa criada no Governo Getúlio Vargas, na década de 1940, vem sendo desconstruída pela ação de seus atuais comandantes, que, na ânsia do lucro e na prepotência, absolutamente natural no regime capitalista, a fizeram destruidora de vidas humanas e do meio ambiente.

Há quem considere o desastre, ou se preferirem a tragédia, de Brumadinho – e também de Mariana, há mais de três anos -, uma obra do acaso, algo que resulta da própria atividade minerária. Um risco ao qual estão sujeitas todas as companhias que atuam no setor. Em parte, sim. Mas o tempo vai passando – daqui a pouco mais de um mês, o rompimento da barragem que matou 300 pessoas em Brumadinho e atingiu o meio ambiente, inclusive o Rio Doce, completa um ano – e fica cada vez mais evidente a culpa dos gestores da Vale na tragédia.

A negligência no controle das operações transformou-se no descaso com as vítimas dessa irresponsabilidade. Quem já perdeu seu passado, suas famílias, seus amores, seus bens não pode continuar sendo desprezado. É preciso que se deem condições às vítimas sobreviventes de refazerem suas vidas. É preciso que sejam agilizadas providências para recompor vidas. Para recompor o meio ambiente. Para recompor a economia de toda uma região. É preciso, enfim, que se ponha fim ao faz de contas de que se está tomando providências.

É hora de mudar. A Vale precisa entender que não faz qualquer favor em adotar medidas que garantam aos cidadãos das comunidades atingidas condições de reiniciarem suas vidas. É preciso também que se faça justiça, punindo responsáveis. A Vale – a empresa, é claro – não pode ser a única punida. Ela, aliás, não é responsável por nada. É, em última análise, vítima também. Responsáveis são os que a comandavam e comandam hoje.

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