Último suspiro da sociedade patriarcal
Negros, índios, mestiços, bastardos e classe trabalhadora apenas configuravam-se com cartilhas propostas pelo então conservadorismo patriarcal
Caros leitores, penso que, de todas as más heranças deixadas pelos nossos colonizadores portugueses, talvez a que mais tenha castigado a população brasileira foi o modelo de sociedade patriarcal advinda do monarquismo. Manteve o monopólio territorial e, em vez de romper com o tradicionalismo, preservou as características portuguesas conservadoristas quanto à forma de comando e autoridade.
Durante praticamente todo o século XIX, o Brasil foi a única monarquia da América Latina dividida em várias províncias. O Brasil foi também o único país a manter o regime monárquico mesmo depois da tão sonhada e proclamada república, em 1889. Entendamos que a figura de um rei simbolicamente é, ainda hoje, uma espécie de soberano. Ele é considerado reinante em sua dignidade e supremo em suas decisões. Atuando na infalibilidade de um poder consagrado por “Deus”, interferindo diretamente na vida política e religiosa de toda uma população.
Em face da tardia e velha república, os seus herdeiros absolveram a personalidade do monarquismo, e a família patriarcal era, portanto, a linha direta de uma sociedade que encarregava de praticar os deveres de reprodução, controle financeiro, além de decisões micro e macro políticas. Nos latifúndios, a prole patriarcal planejava os destinos de suas posses e educava-se para a perpetuação do modelo tradicionalista imperial.
A casta deveria ser preservada a qualquer custo. A fortuna do grupo e suas propriedades se mantinham, assim, indivisíveis sob a chefia do patriarca. Havia então uma total abstinência de entendimento da pluralidade relativa às artes educacionais e científicas e das características étnicas/culturais dos diferentes grupos sociais que se correlacionavam no território nacional, aumentando as desigualdades socioeconômicas e sobrevindas, assim, de um desinteresse pela crítica às relações sociais discriminatórias e excludentes que penetrava cada vez mais a sociedade brasileira. Negros, índios, mestiços, bastardos e classe trabalhadora apenas configuravam-se com cartilhas propostas pelo então conservadorismo patriarcal.
Percebe-se, portanto, que a insurreição de regras impositivas na sociedade atual que ainda são propostas por grupos políticos tradicionais mesmo que em tempos de modernidade não levou em consideração o tamanho progresso do iluminismo, que abriu rotas para uma nova organização social onde a educação passou a ser um dispositivo designando a promoção do bem comum.
Para tanto, as escolas saíram dos espaços religiosos para a secular e, agora, são uma forma de viabilizar a moralidade individual, unindo o homem à sua coletividade. Dessa forma, este é o último suspiro de um modelo patriarcal que atualmente não pode negar as vistas do total avanço científico proposto pelos antigos iluministas, compondo um papel fundamental compartilhado pela maioria dos brasileiros na formulação das propostas sobre a educação, bem como no processo político das hierarquias de governo. Conclui-se então que jamais teremos de novo um regresso à idade das trevas dominada pelo conservadorismo patriarcal.