Quaresma e a procura do caminho
Entramos na Quaresma, um tempo que, nas palavras do Papa Francisco, nos convida “a olhar para dentro de nós mesmos, com o jejum, que liberta do apego às coisas, do mundanismo que anestesia o coração. Oração, caridade, jejum: três investimentos num tesouro que dura”. Também nos chama a reencontrar o caminho e é o tempo para reencontrar a rota da vida. “Com efeito, no caminho da vida, como em todos os caminhos, aquilo que verdadeiramente conta é não perder de vista a meta. Quando na viagem o que interessa é ver a paisagem ou parar para comer, não se vai longe.”
O Papa convidou cada um de nós a fazermos algumas perguntas: “No caminho da vida, procuro a rota? Ou contento-me de viver o dia a dia, pensando apenas em sentir-me bem, resolver alguns problemas e divertir-me um pouco? Qual é a rota? Talvez a busca da saúde, que hoje muitos dizem vir em primeiro lugar, porém, mais cedo ou mais tarde, faltará? Porventura a riqueza e o bem-estar?” E ele lembra, “Senhor é a meta da nossa viagem no mundo. A rota deve ser ajustada na direção d’Ele”.
Segundo Francisco, nessa viagem de retorno ao essencial, “o Evangelho propõe três etapas, que o Senhor pede para percorrer sem hipocrisia nem ficção: a esmola, a oração e o jejum”. “A esmola, a oração e o jejum nos reconduzem às únicas três realidades que não se dissipam. A oração nos une a Deus; a caridade, ao próximo; o jejum, a nós mesmos. Deus, os irmãos, a minha vida: eis as realidades que não terminam no nada e sobre as quais é preciso investir.”
A Quaresma nos convida a olhar “para o Alto, com a oração”, que liberta de uma vida chata “onde se encontra tempo para si, mas se esquece de Deus”, e depois a olhar “para o outro, com a caridade, que liberta da nulidade do ter, de pensar que as coisas estão bem se para mim tudo vai bem”.
A Quaresma nos convida “a olhar para dentro de nós mesmos, com o jejum, que liberta do apego às coisas, do mundanismo que anestesia o coração”. Ao longo do caminho da Quaresma, devemos fixar o olhar no Crucificado. “Jesus na cruz é a bússola da vida que nos orienta para o Céu. Da cruz, Jesus nos ensina a coragem esforçada da renúncia”.
Lembra Francisco, “as realidades terrenas dissipam-se como poeira ao vento. Os bens são provisórios, o poder passa, o sucesso declina. A cultura da aparência, hoje dominante e que induz a viver para as coisas que passam, é um grande engano. Pois é como uma fogueira: uma vez apagada, ficam apenas as cinzas”.
Esse é o tempo de nos libertarmos da ilusão de vivermos correndo atrás da poeira e redescobrirmos que somos feitos para o fogo que arde sempre, não para a cinza que imediatamente desaparece.
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