O complexo de vira-lata acabou?


Por PATRICK ALCÂNTARA DE MEDEIROS, PROFESSOR

07/09/2016 às 07h00

“Paralimpíada” ou “Paraolimpíada”? Jogos “Paralímpicos” ou “Paraolímpicos”? Já vou logo dizendo que é “Paraolimpíada” e “Jogos Paraolímpicos”. Dizem que, por pressão do Comitê Paralímpico Internacional (ou International Paralympic Committee, em inglês), o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) teve que mudar o próprio nome e adotar as formas “paralimpíada” e “paralímpico”. Mas pode um comitê impor grafias às palavras do nosso idioma, contra o espírito da língua? A resposta é “não”.

O CPB não tem autoridade nem competência legal para determinar como devem ser grafadas as palavras de nossa querida língua portuguesa. No Brasil, a ortografia é oficial, regida por lei própria, e a única entidade que pode determinar como as palavras devem ser escritas é a Academia Brasileira de Letras (ABL), por meio de seus lexicógrafos, que elaboram o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (Volp). Esse vocabulário e os dicionários da Língua Portuguesa registram “paraolimpíada” e “paraolímpico”, palavras formadas segundo os mais legítimos processos de formação de palavras em português.

É bem verdade que o Dicionário Houaiss passou a registrar “paralímpico” e “paralimpíada” e, sobre essa última, diz o seguinte: “malformação vocabular que Portugal e o Brasil passaram a usar (no Brasil, oficialmente, a partir de 25 de agosto de 2012), a pedido do Comitê Paralímpico Internacional, para seguir o inglês paralympiad”. Com “paralímpico” ocorre o mesmo.

A exemplo do que ocorre com “hidroelétrico”, “radioamador”, “gastroenterite”, que também podem ser grafadas respectivamente “hidrelétrico”, “radiamador” e “gastrenterite”, a palavra “paraolimpíada”, formada por “para-” (prefixo) e “olimpíada” (substantivo), talvez até pudesse se transformar em “parolimpíada”, mas nunca em “paralimpíada”, justamente porque em todas as palavras semelhantes a essa o elemento que perde a vogal é o prefixo, não o segundo elemento.

É claro que isso não vai fazer abaixar o preço do feijão, porém, um pouco de amor à nossa língua, que é tão rica e bela, não faz mal a ninguém.

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