Os dinossauros


Por MARCOS ARAÚJO, JORNALISTA

07/08/2016 às 07h00

Répteis exuberantes e imponentes, os dinossauros apareceram na Terra há pelo menos 230 milhões de anos. Por aqui, permaneceram por muito tempo e foram a espécie dominante. Não havia para ninguém, eles mandavam no pedaço. Mas, como nada é para sempre, o período de glória dos também chamados “lagartos terríveis” teve fim. Acredita-se que, lá no passado, 65 milhões de anos atrás, um evento catastrófico dizimou em massa estes animais.

Alguns especialistas defendem que um meteorito, ao chocar-se contra o planeta, tenha levantado uma nuvem de poeira tão espessa que bloqueou o calor do sol, congelando tudo o que existia. Guardadas as devidas proporções, os jornalistas de hoje também são dinossauros, pois somos exuberantes, imponentes e, às vezes, terríveis. Além disso, ainda estamos ameaçados por uma nuvem, não aquela congelante, mas uma que tenta, de alguma forma, diminuir a importância do jornalismo, numa era em que a tecnologia permite a todos o maior acesso à informação e que também aumentou os canais possíveis de produção e distribuição de notícias.

Apesar de fisicamente fortes, os primeiros dinossauros não resistiram à sua hecatombe. Com corpos muito mais frágeis, os jornalistas que ainda resistem à sua extinção não querem esmorecer. A salvação talvez esteja naquilo que mais seja vangloriado pela classe: a inteligência. Claro que cabe aqui um mea-culpa. Ao longo dos anos, a submissão aos poderes econômicos e políticos contribuiu, com certeza, para o cenário que se apresenta hoje. Mas também é de responsabilidade dos próprios jornalistas o dever de reverter a situação e mostrar que nós não vamos desaparecer. Se a arrogância jurássica nos permite, a inteligência, apregoada pela classe, é capaz de mostrar caminhos para o jornalismo.

Investir no conteúdo é um deles. Lembra que todo jornalista na juventude tem vontade de mudar o mundo? Todavia, com a chegada da maturidade, é possível perceber que isso não é tão simples assim. Era romantismo puro! Entretanto, analisando com mais profundidade, convenhamos, amor nunca é demais. O amor, traduzido como dedicação à profissão, pode mostrar seu fôlego e o quanto ela é fundamental para a sociedade contemporânea. Não pense aqui que, ao apelar para o sentimentalismo, abdicamos do nosso valor. Informação de qualidade precisa de investimento financeiro.

Precisamos voltar aos tempos de foca, mesmo já sendo veterano, e buscar a paixão talvez adormecida. Emergir na pauta, apurar rigorosamente, elevar o nosso diferencial e envolver-se com a apuração até a alma. A imparcialidade, que é um mito, pode até cair por terra. Muitas vezes, ela serve apenas para a indiferença, que atualmente não cabe no jornalismo. Sejamos daqueles que têm indignação e sentimento pelas vítimas. A grande mídia tem deixado a reportagem de lado. As notícias estão cada vez mais requentadas na internet. A superficialidade transformou-se em uma bandeira que marcha em busca de likes.

A sobrevivência do jornalismo está na dedicação de tempo aos repórteres, que, hoje, cada vez mais, apuram pelo WhatsApp. Assuntos importantes para a população precisam do jornalista em locus, necessitam de imersão. Pode até ser que sejamos os últimos a viver o jornalismo como até então conhecemos: diário, feito em equipe, cercado por uma redação. Neste sentido, somos mais dinossauros ainda, mas não temos braços curtos. Assim, vamos arregaçar as mangas!

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