Mobilidade urbana comprometida
Juiz de Fora caminha aceleradamente para uma mobilidade urbana insustentável. No mundo, inúmeras são as medidas que vêm sendo aplicadas para solucionarem esse problema. Na verdade, as cidades não possuem mais espaço público a oferecer para automóveis. O planejamento viário agora tende a aplicar medidas restritivas ao uso do automóvel. Não há alternativas. Sem essas providências, adeus mobilidade urbana.
As cidades não podem se tornar reféns de um trânsito constantemente congestionado. Um trânsito que irrita, atrasa, polui e custa caro ao país, sobretudo, pela queima de combustíveis fósseis, cujas reservas estarão extintas, no máximo, em 60 anos. Os deslocamentos diários das pessoas para o trabalho, estudo, lazer, precisam se efetivar com maior celeridade e qualidade, o que pressupõe trocar o automóvel pelo transporte público.
Nossa cidade, infelizmente, só dispõe de um modal de transporte coletivo: o rodoviário. Mesmo assim, de péssima qualidade, ineficaz no atendimento da demanda com qualidade. As pessoas não confiam no transporte público de JF.
Hoje, o automóvel é objeto de desejo que qualquer um pode ter, daí uma cidade com as vias cada vez mais entupidas de veículos, porque todos querem usar seus carros nos deslocamentos diários. A cidade não dispõe de uma rede cicloviária, por isso, não usa a bicicleta como modal de transporte. Além disso, a acomodação nos impede de caminhar a pé, ainda que para pequenas distâncias. Em JF é perceptível que o automóvel tem tratamento prioritário, e de um modo geral, todos querem estar num mesmo lugar ao mesmo tempo e na mesma hora, esse é o principal problema! Na superfície, o espaço público está exaurido, e não passa pela cabeça do cidadão que a solução para a cidade está na implantação de um transporte público de massa subterrâneo. Só assim o automóvel poderá ficar em casa e a superfície aliviada do excessivo volume de veículos em circulação.
Juiz de Fora não é uma cidade planejada. Não tendo havido planejamento, os principais corredores de transportes se formaram aos pedaços, qual uma colcha de retalhos. Construir uma nova rede viária para o transporte público é muito difícil, isso custaria caríssimo aos cofres públicos, que estão quebrados, salvo algumas exceções. A criação de mais vias seria inócua. Quanto mais vias, mais automóveis para ocupá-las. Por outro lado, não dá para acomodar, temos que encontrar alternativas. Niterói (RJ), por exemplo, é uma cidade do porte da nossa. Recentemente, lá implantaram o sistema de BHLS (Bus of High Level of Service), ou seja, um serviço de transporte de nível elevado e versátil que trabalha em corredores seletivos e comuns ao mesmo tempo, utilizando coletivos que tenham portas dos dois lados. Mais ou menos o que projetamos para a nossa Avenida Getúlio Vargas, uma avenida com plataformas centrais de embarque e desembarque, proibindo-se, inclusive, a circulação de automóveis pela via.
Há, no entanto, uma certeza: de um modo geral, a alternativa para melhorar a mobilidade urbana tem que passar pela redução da circulação de automóveis nas ruas. Para isso será necessário taxar os congestionamentos, a quilometragem rodada, estabelecer um rodízio de placas para a circulação de veículos, desestimular o estacionamento público (com tarifas mais elevadas) e/ou eliminar vagas nas vias. Experiências internacionais ganham destaque a partir de um detalhamento de todo o processo de implantação de tais medidas, como ocorreu com sucesso nas cidades de Singapura, Londres e Estocolmo.