Um ilustre aluno do Colégio Pedro II

“Malba Tahan foi um dos maiores divulgadores da matemática no Brasil, ensinada de forma divertida e diferente. Ocupou a cadeira 8 da Academia Pernambucana de Letras”


Por Flávia Halfeld - Jornalista e delegada de polícia

06/06/2019 às 06h18- Atualizada 06/06/2019 às 08h22

Colocado no centro de uma das inúmeras polêmicas criadas pelo Governo Bolsonaro, o Colégio Pedro II, instituição fundada pelo imperador homônimo, quando este contava apenas com 12 anos de idade, teve entre seus alunos ilustres o matemático, professor e escritor do modernismo brasileiro Júlio César de Melo e Souza, mais conhecido como Malba Tahan, cujas obras mais conhecidas são “O homem que calculava” e “O céu de Allah”.

Quatro dias antes de sua desencarnação, em 18 de junho de 1974, em Recife, Malba Tahan esteve com um grupo de amigos em um almoço fraterno, no apartamento do confrade César Soares, em Copacabana, como sempre ocorria. Entre tantos assuntos debatidos, ninguém se daria conta de que aquele seria o último almoço do eminente literato, conforme escreveu Newton Boechat, nosso amigo dileto, na revista Reformador, editada pela Federação Espírita Brasileira, em janeiro do ano seguinte.

Segundo ele, Malba Tahan “estava alegre, eufórico, contando vários casos de sua vida substanciosa, no magistério, em conferências, viagens, literatura, colônias de hansenianos e… mediunidade”. Não tinha uma religião particular, mas era deísta. “Nunca se esqueceu de Alá, o Misericordioso, quer em palestras, quer em seus atos desdobrados em prol dos necessitados”.

Malba Tahan era carioca, mas veio a óbito na capital nordestina, quando para lá se dirigiu a fim de, entre outros compromissos sociais, conferenciar para alunas da capital pernambucana. A última carta, deixada aos familiares, atestava sua índole evangélica e, entre os assuntos, dizia que desejava ser enterrado em caixão de terceira classe, sem coroas de flores subscritadas, sem luto por parte dos familiares e sem discursos; em espírito lembraria uma trova de Noel Rosa: “Roupa preta é vaidade/ para quem se veste a rigor/ o meu luto é a saudade/ e a saudade não tem cor”.

O eminente escritor tinha uma inclinação fortíssima pelo oriente árabe e, daí talvez, o uso do pseudônimo que o acompanhou em suas obras editadas. Ele chegou mesmo a ter experiências mediúnicas, revelando esse seu lado espiritual, e narrou ao amigo Boechat um fato envolvendo-o a um cofre que ninguém conseguia abrir, sendo que seu dono havia falecido e não deixara o segredo. Procurado em seu sítio por pessoas interessadas conteúdo do cofre, Malba Tahan jocosamente dirigiu-se aos presentes e sugeriu que se invocasse o espírito do dono do cofre para situar em ordem os algarismos das três esferas. Proferido o nome e com o uso dos dedos, chegou-se à sua abertura. Um colega seu, mestre em probabilidade, esclareceu que, para se repetir o feito, a tentativa teria de subir a alguns milhões de experiências.

Malba Tahan foi um dos maiores divulgadores da matemática no Brasil, ensinada de forma divertida e diferente. Ocupou a cadeira 8 da Academia Pernambucana de Letras. Desencarnou fulminado por edema pulmonar e trombose. A ele, nossas queridas homenagens!

Flávia Halfeld
Jornalista e delegada de polícia

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