Qual projeto de Igreja queremos?
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) realiza, no período de 1º a 10 de maio, em Aparecida (SP), a sua 57ª Assembleia Geral, onde será escolhido um novo presidente. Este é um momento importante para a Igreja do Brasil, uma vez que o país vive momentos de incerteza, e a escolha de um novo representante são relevantes na determinação de qual posição pretende se seguir.
Segundo os atuais estatutos, a presidência deve ser composta por um presidente, dois vice-presidentes, um secretário-geral e seu vice. Além destes, a assembleia elegerá também – por voto direto e secreto – os 12 presidentes das Comissões Episcopais Pastorais e o delegado e o suplente junto ao Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam). Podem votar e ser votados, segundo o Estatuto da entidade, os 323 bispos na ativa, os 171 bispos eméritos e representantes de organismos e pastorais da Igreja.
Nesta assembleia, estarão em jogo dois projetos da Igreja no Brasil. O primeiro, liderado pelo grupo que mantém princípios ligados aos antecessores do Papa Francisco, como João Paulo II e Bento XVI. Uma corrente considerada mais distante da população e mais centrada na própria instituição e com forte aproximação na relação com o Estado. Do outro lado, um grupo que propõe seguir a linha do Papa Francisco, reaproximando a Igreja Católica do povo, especialmente dos mais pobres, e defender aquilo que denominam o catolicismo do século XXI.
O sociólogo católico, professor do IFRJ, participante do Movimento Fé e Política, jornalista Jorge Alexandre Alves, vê o encontro com preocupação: o catolicismo brasileiro está diante de uma encruzilhada política. Neste momento histórico complicado, se avizinham as eleições para a CNBB com rumores de que haverá mudança em seus estatutos.
Está nas mãos do episcopado brasileiro resgatar uma tradição profética recente, que fez da Conferência dos Bispos uma das instituições mais respeitadas do Brasil na defesa dos direitos humanos, e de grande credibilidade no dinamismo de suas ações – como a Campanha da Fraternidade. Ou optar por cair em um triunfalismo fundamentalista, alimentado por doses cavalares de formalismo litúrgico, distanciamento da vida concreta do povo, salpicada com generosas pitadas de pentecostalismo.
O jornalista lembra que quem viu ou conviveu com bispos como Luciano Mendes de Almeida, Antônio Fragoso, Adriano Hypólito, Paulo Evaristo Arns, Tomás Balduíno, Waldyr Calheiros ou Aloísio Lorscheider sente muita diferença: o profetismo pessoal destes e de muitos outros, que oferecia uma pronta resposta aos desafios que se impunham, foi substituído por um “profetismo institucional”. Este, por sua vez, muito precavido nos termos e nas expressões. Embora os pronunciamentos sejam acertados, estão sempre um passo atrás dos acontecimentos. A reação parece lenta demais em um mundo marcado pela comunicação digital permitida pela internet e pelas redes sociais.
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