É dando que se recebe…


Por PAULO CESAR DE OLIVEIRA, JORNALISTA E DIRETOR-GERAL DAS REVISTAS VIVER BRASIL E ROBB REPORT

06/04/2016 às 07h00- Atualizada 06/04/2016 às 08h41

A prática em si não é nenhuma novidade na nossa vida política. Bem ao contrário, é extremamente comum e dela se encontra notícia desde o Império, quando dom Pedro II distribuía títulos nobiliárquicos para obter apoios políticos, quando não favores de alcova. O que assusta agora é a forma obscena como se tem praticado o troca-troca de favores e de cargos para assegurar o mandato da presidente Dilma.

Coisa de fazer vermelho Roberto Cardoso Alves, o Cardosão do “é dando que se recebe” da Constituinte de 1988. Não que fosse diferente do que ocorre agora, mas, daquela época para cá, o pessoal perdeu o pudor. A coisa é escrachada, embora tenha o pomposo nome de “repactuação”, alcunha de negociata de cargos de todos os escalões. Semelhante em tudo ao mensalão, quando se compravam parlamentares com dinheiro, o “mercadão de cargos” pode até evitar que a presidente seja cassada, mas não vai conferir legitimidade ao seu governo e, certamente, trará o problema adicional da incompetência.

É que não se deve acreditar que aquele que direciona seu voto em função de um cargo, para si ou para um apaniguado, tenha competência para exercer o cargo ou para indicar alguém. É que lhe faltará o predicado básico para o exercício de atividade pública, a decência, a honestidade. Quem faz um preço agora, certamente, pensa em corrigi-lo mais à frente, à medida que a situação se agravar.

O que escandaliza neste quadro atual – em que se falam abertamente, sem constrangimentos, em nomeações, desde que elas representem voto – é que, salvo melhor juízo, esta é uma situação que não se encaixa no perfil vendido da presidente Dilma. Não é papel a ser exercido por quem tinha no fato de não ser política a melhor credencial para exercer o cargo. O papel pode ficar no tamanho de outros políticos, petistas ou de outras legendas, mas não na presidente, que se orgulha em ter lutado, com armas e ideias, para mudar o país. Pois não mudou. Até piorou. Valeu apenas, presidente, tanto sofrimento pessoal para o país chegar aonde chegou?

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