Da cinza à vida


Por Equipe Igreja em Marcha, grupo de leigos católicos

06/03/2020 às 07h06- Atualizada 06/03/2020 às 07h46

Após um carnaval que, a seu modo, deixou um apelo à tolerância, ao diálogo, ao cuidado e ao respeito à diversidade cultural e ambiental, em que até Jesus, em seus rostos atuais, mereceu lugar de destaque, chegamos ao tempo da Quaresma! “A Quaresma não é o tempo para fazer cair sobre o povo inúteis moralismos, mas para reconhecer que as nossas míseras cinzas são amadas por Deus”, foram as palavras do Papa na homilia da Quarta-Feira de Cinzas.
Naquela celebração, Francisco sublinhou que “o pó sobre a cabeça faz-nos ter os pés assentes na terra: recorda-nos que viemos da terra e à terra voltaremos; isto é, somos débeis, frágeis, mortais”. Mas “somos o pó amado por Deus.

Amorosamente o Senhor recolheu nas suas mãos o nosso pó e, nele, insuflou o seu sopro de vida”. “Deste modo, a cinza recorda-nos o percurso da nossa existência: do pó à vida. Somos pó, terra, barro; mas, se nos deixarmos plasmar pelas mãos de Deus, tornamo-nos uma maravilha”, porque “nascemos para ser amados, nascemos para ser filhos de Deus”. Entretanto advertiu o Pontífice que devemos estar atentos para não cairmos no segundo percurso: o percurso contrário, da vida ao pó!

Ecoando essas palavras, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) tem se esforçado para evitar que o país avance em direção ao pó. Ao lançar a Campanha da Fraternidade deste ano, o secretário-geral da CNBB, dom Joel Portella Amado, afirmou que “se nós queremos defender a vida, precisamos defender o diálogo e a democracia. Isso é a CNBB, isso é a Igreja, isso é o Evangelho. De algumas coisas não podemos abrir mão: a primeira delas é a vida, e a segunda, como consequência da vida, é a defesa da democracia. Ela implica o equilíbrio sadio dos três poderes”, em resposta ao aceno feito pelo atual presidente em apoio a movimentos que afrontam esse pilar de nosso país.

Nessa mesma linha, d. Vicente de Paula Ferreira, membro da Comissão Especial para a Ecologia Integral e Mineração da CNBB, afirmou, em sessão da ONU, que “as populações não são consultadas no processo de licenciamento para a implantação de megaprojetos”, ressaltando que os rompimentos das barragens em Brumadinho e Mariana continuam produzindo efeitos nocivos nas comunidades e no meio ambiente, nada tendo sido feito para impedir eventos semelhantes.

“Neste ano, o tema da Campanha trata justamente do valor da vida e da nossa responsabilidade de cuidar dela em todas as suas instâncias, pois a vida é dom e compromisso; é presente amoroso de Deus, de que devemos continuamente cuidar. De modo particular, diante de tantos sofrimentos que vemos crescer em toda parte, que ‘provocam os gemidos da irmã terra, que se unem aos gemidos dos abandonados do mundo, com um lamento que reclama de nós outro rumo, somos chamados a ser uma Igreja samaritana'”, escreveu o Papa Francisco em sua mensagem aos brasileiros.

A Quaresma nos lembra, portanto, que a Igreja deve caminhar na direção da vida, e não do pó ou da lama!

Este espaço é livre para a circulação de ideias e a Tribuna respeita a pluralidade de opiniões. Os artigos para essa seção serão recebidos por e-mail ([email protected]) e devem ter, no máximo, 30 linhas (de 70 caracteres) com identificação do autor e telefone de contato. O envio da foto é facultativo e pode ser feito pelo mesmo endereço de e-mail.

Os comentários nas postagens e os conteúdos dos colunistas não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é exclusiva dos autores das mensagens. A Tribuna reserva-se o direito de excluir comentários que contenham insultos e ameaças a seus jornalistas, bem como xingamentos, injúrias e agressões a terceiros. Mensagens de conteúdo homofóbico, racista, xenofóbico e que propaguem discursos de ódio e/ou informações falsas também não serão toleradas. A infração reiterada da política de comunicação da Tribuna levará à exclusão permanente do responsável pelos comentários.