O politicamente correto


Por Marcelo Frank, Colaborador

06/02/2020 às 06h33

Após o período de regime militar (1964-1985), o Brasil vivenciou um processo constituinte que resultou na Constituição Federal de 1988, repleta de direitos, sendo denominada a Constituição Cidadã. Após este processo constituinte, o Brasil passou a contar com novos movimentos e organizações na sociedade com vistas a consolidar os preceitos constitucionais, procurando a inclusão daquelas pessoas excluídas por diversas motivações. Com isso, surgiu uma concepção do que é “politicamente correto” na convivência cotidiana entre os brasileiros.

Parece que há uma diretriz do atual Governo de adotar um discurso contrário a tudo o que se assemelha ao pensamento adotado nas políticas públicas, nos meios culturais e na defesa dos direitos humanos. Esse discurso do presidente (e de seus seguidores) objetiva o confronto com aqueles que lhe foram críticos durante a campanha eleitoral em 2018. Com isso, o presidente faz um discurso do “politicamente incorreto”. A imprensa tradicional tem interpretado que o presidente Bolsonaro age como se estivesse em permanente campanha eleitoral, e já está agindo com vistas à sua reeleição em 2022.

O ano de 2019 está sendo o primeiro de um quadriênio do mandato do atual presidente, e como prever – em termos de política – o que nos reserva o futuro do Brasil? O antagonismo entre os ativistas políticos pró e contra o Governo é crescente. As lideranças da oposição ao Governo e que foram derrotadas na última eleição ainda não conseguiram esboçar uma reação consistente. Parece que estão perplexas diante dos fatos políticos. Ocorreram manifestações pontuais, como, por exemplo, aquelas em defesa da educação no primeiro semestre. Já no caso da reforma da Previdência Social, que em muitos países causa grandes manifestações contrárias, aqui foi aprovada como emenda constitucional pelo Congresso Nacional com relativa facilidade, apesar de exigir um quórum alto.

O presidente Bolsonaro foi legitimamente eleito e tem todo o direito de implementar sua concepção política, mas por dever do cargo tem que agir dentro daquilo previsto em lei. Os limites legais fazem com que os governantes se sintam impotentes para realizarem seus projetos, mas foi assim o que aconteceu com os antecessores, eleitos diretamente pelo voto popular. O “presidencialismo absolutista” pode seduzir aqueles políticos que têm pouco apreço ao rito democrático. Com isso, temos visto os conflitos que se sucedem, e de forma repetitiva, entre a vontade do governante atual e as instituições que fazem os freios e contrapesos na democracia.

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