Cinquenta e dois anos esta noite


Por Tribuna

05/05/2016 às 07h00- Atualizada 05/05/2016 às 08h28

Geraldo Ribeiro de Sá, professor

Parafraseando o título do livro “Cinquenta anos esta noite”, de José Serra, atualmente senador pelo PSDB/SP, que leio pela segunda vez, o texto me provoca algumas comparações da crise política, econômica e social de 1964 com a crise atual.

As duas crises se parecem e se diferem. Dentre as semelhanças destaca-se o clima tenso e generalizado de insegurança, decorrente da dúvida e, por vezes, do medo em relação ao presente e ao futuro, ao Governo atual e ao seu possível sucessor. Se o Governo atual continuar, qual será sua capacidade de administração, de diálogo e de convencimento das oposições? Se houver troca de governo, haverá uma nova maneira de administrar o país de forma a satisfazer aos interesses da maioria da população, ou não? As vozes das ruas vêm das oposições, mas também das situações. As oposições de hoje podem ser as situações de amanhã e vice-versa. Em 1964 e nos anos consecutivos, as vozes das ruas foram silenciadas. Em tempos democráticos, como os de hoje, as ruas continuarão falando e deverão ser ouvidas.

Algo comum às duas crises, e talvez a todas, são as bandeiras de luta empunhadas pelos “salvadores” da pátria, sendo uma delas a necessidade de passar o país a limpo. Em 1964, prevalecia o combate, sem trégua, à subversão e à corrupção. A primeira foi totalmente vencida, mas a segunda, talvez, apenas atenuada. No presente, destaca-se a bandeira de luta contra a corrupção, principalmente, contra aquela que nasce da mistura de interesses de alguns cidadãos comuns, alguns funcionários, alguns empresários, alguns políticos com os interesses do país, sendo a propina a moeda de troca mais comum nessas transações. Além da corrupção, destaca-se a ânsia pela troca de governo e do partido pelo qual ele foi eleito. O Governo atual e o respectivo partido poderão ser substituídos, mas a corrupção possivelmente continuará. Essa faz parte da natureza humana, e por isso deve ser objeto de combate e de vigilância ininterruptos igualmente de todo ser humano, de todos nós, portanto. Como instrumentos de controle e de luta contra toda forma de comportamento desviante, inclusive a corrupção, mediada pela propina, as comunidades construíram as normas éticas, morais e jurídicas.

Todas as crises têm seus desfechos esperados e inesperados, desejáveis e indesejáveis. Em 1964, amplos setores da população, mas nem todos, desejavam ardentemente a queda do Governo João Goulart. Esse fora o efeito desejado e conseguido. Um dos efeitos inesperados e indesejados foi o governo autoritário com duração de quase 20 anos. Em 2016, amplos setores da população, mas também nem todos, anseiam pela substituição do Governo Dilma, mas por caminhos previstos pela Constituição Federal. Seja qual for o desfecho, em conformidade com as normas constitucionais, haverá a necessidade de um grande pacto e diálogo permanente entre as situações e as oposições, sejam entre as de hoje ou as de amanhã.

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