A capacidade do amor
No meu dia a dia profissional de assistente social, atendo com muita frequência familiares de pessoas idosas; filhas, em sua grande maioria, que me pedem ajuda: a existência de algum lugar ou espaço público para “colocar” minha mãe; um ambiente social em que ela pudesse passar o dia, ou parte dele; de manhã, ou à tarde. Um lugar para ela se distrair, conhecer mais gente, outras pessoas, fazer amizades, conversar. Sabe por quê? De uns tempos para cá, minha mãe piorou no seu comportamento dentro de casa: aquela mulher esperta, ativa, que dava conta de tudo, que mandava na gente. Acabou! Hoje, ela habita o universo que o seu cérebro ainda permite: a cama. Vive deitada – é esse o espaço da casa que ela domina. Temos uma outra geografia humana que não nos pertence mais. Troca a noite pelo dia.
Este é mais um relato que se sucede diariamente no meu espaço profissional: “quero um lugar na cidade para deixar minha mãe!”.
São fragmentos humanos aqui registrados que me levam a algumas reflexões. Quem vai cuidar destas pessoas idosas das nossas famílias? Por que não arriscar em dizer, quem vai cuidar de nós daqui a pouco? Diante da doença de Alzheimer – a derrota de 7 a 1 para a Seleção Alemã, no Mineirão, é café pequeno. Esse “alemão” aqui tira qualquer pessoa do sério. Ele é implacável.Vai te esfarelando pelas beiradas e por dentro, você vai desidratando suas emoções: é muito duro/cruel perceber e sentir que seu pai está indo embora… Com olhos que fixam (paralisados) um mundo que ninguém vê.
Só o mundo do amor, da compaixão, da reciprocidade e do perdão é capaz de nos confortar e fazer a gente compreender que esta realidade é nossa, é muito humana e pode ser libertadora.
Precisamos de apoio político para as famílias que cuidam de seus idosos; é necessário que tenhamos debates públicos sobre o que querem, as pessoas idosas, de nossos representantes políticos. Precisamos responder às necessidades sociais, psicológicas, afetivas e espirituais que o envelhecimento de nosso país e de nossa cidade traz para este contingente progressivo de pessoas idosas que vivem em nossa cidade. Mais do que viver muito é fundamental viver melhor, com qualidade de vida, com cidadania e com amor. Menos ódio, mais respeito.
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