O sentido da teologia
A fé transcende a razão, mas ela também tem uma dimensão racional. A teologia é a reflexão racional sobre a revelação divina, que a Igreja Católica aceita pela fé como verdade salvífica universal. A teologia católica reconhece a primazia da Palavra de Deus. Assim, São Tomás de Aquino, com uma longa tradição, diz que, na teologia, Deus não é o objeto do qual falamos. Deus é o sujeito da teologia. Assim, quem fala na teologia, o sujeito falante, deve ser o próprio Deus. E o nosso falar e pensar deve servir apenas para que possa ser ouvido, para que o falar de Deus, a Palavra de Deus, possa encontrar espaço no mundo. Assim, somos convidados para este caminho da renúncia a palavras nossas; somos chamados a este caminho da purificação, para que as nossas palavras sejam só instrumento mediante o qual Deus possa falar, e assim Deus seja realmente não objeto mas sujeito da teologia.
Dado que o homem tende sempre a relacionar os seus conhecimentos uns com os outros, também o conhecimento de Deus se organiza de modo sistemático. A teologia oferece, portanto, a sua contribuição para que a fé se torne comunicável, e a inteligência daqueles que não conhecem ainda o Cristo possam procurá-la e encontrá-la. A teologia, que obedece ao impulso da verdade que tende a comunicar-se, nasce também do amor e do seu dinamismo: no ato de fé, o homem conhece a bondade de Deus e começa a amá-lo, mas o amor deseja conhecer sempre melhor aquele a quem ama. Portanto, a fé procura compreender. Neste sentido, Santo Agostinho pôde concluir: “eu creio para compreender e compreendo para melhor crer”.
A verdade revelada de Deus, ao mesmo tempo, exige e estimula a razão do crente. O diálogo entre fé e razão, entre teologia e filosofia, é necessário não só à fé mas também à razão, como explicou o Papa João Paulo II. É necessário porque uma fé que rejeita ou despreza a razão arrisca cair na superstição ou no fanatismo, enquanto uma razão que deliberadamente se fecha para a fé não alcançará a máxima possibilidade do que pode ser conhecido. A reta razão demonstra os fundamentos da fé e, iluminada pela luz desta última, cultiva o entendimento das coisas divinas, enquanto a fé liberta e protege a razão de erros e lhe proporciona conhecimentos numerosos. Pode-se dizer, com toda certeza, que nenhuma filosofia de vida alcança a verdade plena sem a religião, pois “só Deus satisfaz” (São Tomás de Aquino). Portanto, a razão precisa da fé. “A fé, dom de Deus, apesar de não se basear na razão, decerto, não pode existir sem ela; ao mesmo tempo, surge a necessidade de que a razão se fortifique na fé, para descobrir os horizontes aos quais, sozinha, não poderia chegar” (Papa João Paulo II).
Um critério da teologia católica é que ela tem a fé da Igreja como fonte, contexto e norma. Crer é um ato pessoal e, ao mesmo tempo, eclesial. A fé da Igreja precede, gera, suporta e nutre a fé do fiel católico. A Igreja é a Mãe de todos os crentes. No longínquo século III, São Cipriano pôde dizer: “Ninguém pode ter a Deus por Pai, se não tiver a Igreja por Mãe”.
O teólogo é membro e filho da Igreja e, portanto, deve respeitar a função e as diretrizes próprias do seu magistério, isto é, do Papa e dos bispos em comunhão com ele. “O ofício de interpretar autenticamente a Palavra de Deus escrita ou transmitida foi confiado unicamente ao Magistério vivo da Igreja, cuja autoridade se exerce em nome de Jesus Cristo, isto é, foi confiado aos bispos em comunhão com o sucessor de Pedro, o bispo de Roma” (Catecismo da Igreja Católica n° 85). O magistério, por sua vez, conta com a colaboração dos teólogos.
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