Setembro Amarelo: é preciso falar de suicídio
Nestes tempos modernos, em que tudo se processa velozmente, viver se resume a: “Não tenho tempo para isso” e “não tenho tempo para aquilo”, mas, num piscar de olhos, a vida passa, e só então percebemos que fomos apenas meros coadjuvantes da nossa própria existência, atinando com a filosofia do polonês Zygmunt Bauman nos tais “tempos líquidos”!
E, nesse viver tão desenfreado, talvez nos esqueçamos de cuidar de nós mesmos e do próximo, deixando de lado algo primordial para a qualidade de vida: a saúde mental. E, na falta dela ou por outros motivos, muitos acabam se enveredando pelo caminho sem volta do autoextermínio. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), o Brasil ocupa a oitava posição entre os países com maior incidência de suicídio. Uma epidemia sorrateira, na qual mais de 11 mil mortes são registradas por ano, sem contar as subnotificações. Os dados revelam que a cada 45 minutos uma pessoa comete suicídio no país!
Mas este não é só um problema individual ou familiar. É um fenômeno social complexo, que carece da atenção de todos nós, e, por ser considerada, principalmente, uma questão de saúde pública, desde 2015, vem sendo realizado o Setembro Amarelo, uma campanha brasileira que objetiva a prevenção ao suicídio, por iniciativa do Centro de Valorização da Vida (CVV), do Conselho Federal de Medicina (CFM) e da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), à qual já aderiram vários entes sociais. O CVV, inclusive, disponibiliza, gratuitamente, para qualquer lugar do Brasil, o telefone 188, como auxílio à prevenção, através do apoio emocional de voluntários!
De acordo com a OMS, o suicídio tem prevenção em 90% dos casos. Contudo ainda é uma realidade a ser trabalhada, pois o assunto é muito estigmatizado no Brasil. Infelizmente, muita gente acha que quem ameaça se matar só quer “chamar a atenção”; ou que os transtornos mentais e comportamentais, como a depressão, não passam de “frescura”; ou que dependência química e alcoolemia não têm relação com isso; ou que bullying escolar não deprime; ou ignora o crescente índice de autoextermínio entre os jovens e entre os povos indígenas, etc. Importa saber que o suicídio não é um fato isolado e que ele pode ser também embalado pelo sadismo humano, a exemplo de quem assiste a transmissões suicidas em redes sociais, de quem propaga “desafios” e jogos nocivos ou de quem incentiva comportamentos tóxicos em “fóruns” na deep web, lembrando que induzir, instigar ou auxiliar o suicídio é um crime tipificado no art. 122 do Código Penal Brasileiro.
Destarte, na prevenção, é essencial o papel dos protagonistas sociais (família, religião, escola, governantes, instituições policiais, mídias, conselhos de saúde, organizações não governamentais, etc.) ao tratarem este tema transversal, conduzindo as pessoas a praticarem a fraternidade, no sentido empático de se colocar no lugar do outro, entendê-lo e buscar ajuda o quanto antes. Combatendo a cultura do “não é problema meu”, entenderemos que atitudes simples como um abraço podem valer uma vida! Se você estiver passando por alguma turbulência, olhe ao redor: você não está só! Fale com alguém e busque ajuda profissional! E, a quem estiver do outro lado, faça a lição de casa: já praticou a fraternidade hoje?