Sinal dos tempos


Por Tribuna

01/05/2016 às 07h00

CARLOS MAGNO ADÃES DE ARAUJO, MESTRE EM GEOGRAFIA

No final de 2015, acompanhamos perplexos a catástrofe ambiental ocorrida pelo rompimento de uma barragem com lama tóxica no município de Mariana, MG, da qual praticamente não se fala mais, apesar de tão recente e a despeito das crises política e econômica que atraíram os holofotes e a atenção da sociedade, ofuscando o evento, que é apenas um dos inúmeros problemas socioambientais gerados pela ação humana sobre o planeta, que estamos deliberadamente destruindo.

O modelo de sociedade no qual estamos inseridos, erigido sobre a falsa necessidade de consumir para mostrar o quanto valemos para as outras pessoas e, assim, aumentar nossa autoestima momentaneamente (para depois, deprimidos, sentirmos novamente a “necessidade” de consumir), é um dos maiores responsáveis pela degradação ambiental e a formação de contingentes de milhões de seres humanos infelizes porque são incapazes de pagar pelo consumo. Ocorre uma inversão de valores, na qual a sociedade do “ter” sobrepuja a sociedade do “ser”. Claramente, portanto, a crise não é somente ambiental, mas, antes de tudo, civilizatória, já que é baseada no produtivismo, no consumismo e no individualismo, fomentados por poderosos interesses econômicos que se utilizam das mais variadas técnicas para disseminar suas ideologias. Não estamos fazendo uma crítica marxista ou de viés esquerdista ao capitalismo. Nossa intenção é tão somente apontar algumas contradições do sistema para refletirmos sobre possíveis alternativas de desenvolvimento, que necessariamente não precisam “superar o capitalismo”.

No contexto das novas demandas quanto à questão ambiental e à necessidade de caminhos que levem à sustentabilidade, nas suas mais variadas nuances, a Santa Sé se posicionou através da mensagem do Papa Francisco por meio da Encíclica Laudato Si, que conclama por ações em prol de um mundo sustentável. Os reflexos já se fazem sentir no Brasil, haja vista o tema da Campanha da Fraternidade deste ano, “Casa comum, nossa responsabilidade”, cujo mote mescla ecumenismo e meio ambiente. Essa iniciativa denota que a preocupação com a saúde do planeta não deve ser prerrogativa da ciência e dos cientistas, mas, sobretudo, da sociedade, através de seus governos, instituições e organizações.

Embora atentos ao delicado momento político do Brasil, a questão ambiental também é uma pauta urgente e deve ser tratada como tal. Ações efetivas que transcendam a mera retórica devem ser pensadas e colocadas em prática para, assim, continuarmos a habitar este planeta, metaforicamente chamado por Carl Sagan, um dos maiores cientistas do século XX, de “pálido ponto azul”, já que é pequeno diante da imensidão do universo, porém, muito especial por abrigar as únicas formas de vida conhecidas.

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