Tempo e articulação
O próximo governo precisa de agilidade para aprovar a PEC da Transição, por ser definidora das metas anunciadas em campanha
O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva só vai anunciar seu ministério depois de sua diplomação, marcada para o dia 12 de dezembro. Foi o que disse aos interlocutores a despeito das pressões que tem sido alvo para anunciar a sua equipe, especialmente da área econômica. O mercado tem pressa em conhecer o sucessor do ministro Paulo Guedes para, só a partir daí, realizar novos negócios. O clima de incerteza está adiando decisões o que implica em perda de recursos a depender do investimento.
Lula espera a diplomação, pois, a partir dela, será oficializando futuro presidente, restando apenas a passagem do posto, prevista para o dia 1º de janeiro de 2023. Com o recibo da Justiça Eleitoral, ele se sentirá mais à vontade para anunciar sua equipe, especialmente em áreas sensíveis, como própria economia e, sobretudo, na Defesa, com a consequente indicação dos futuros comandantes das Forças Armadas.
De fato, são questões que demandam tempo e articulação para serem levadas adiante. O país ainda está em meio a uma inflação e com a paralisação dos negócios, o próximo Governo terá imensuráveis desafios pela frente. Por isso, a prioridade, hoje, é aprovar a Proposta de Emenda Constitucional da Transição, por ser ela a matriz do primeiro ano de mandato. A equipe de Lula quer avaliar o teto de gastos e tirar dele algumas despesas estratégicas na área social. Sem essa autorização, terá problemas em cumprir as promessas de campanha, o que seria um problema para um início de jornada.
A tramitação da PEC da Transição está avançada no Senado, mas é na Câmara que terá o seu principal teste, já que há pontos interligados. O deputado Arthur Lira quer renovar o seu mandato de presidente e faz dessa possibilidade uma moeda de negociação especialmente com o Partido dos Trabalhadores. Já teria o aval da legenda do presidente eleito, mas à mesa de discussões, agora, estão comissões estratégicas, como a de Constituição e Justiça.
Negociações fazem parte do jogo político e os atores envolvidos conhecem essa questão em todos os seus detalhes e, por isso, sabem que não dá para demorar tanto tempo para a sua votação. O futuro Governo precisa de lastro e até mesmo para definir o perfil dos futuros ministros carece da aprovação do texto.
Lula tem permitido especulações, mas até agora não definiu nenhum nome. Usa, provavelmente, a estratégia do sereno, isto é, deixa vazar alguns nomes e avalia a sua repercussão nas ruas. Cotado para a pasta da Fazenda, o ex-ministro Fernando Haddad almoçou com banqueiros na semana passada na condição de interlocutor do presidente. No início desta semana, porém, foi enfático ao dizer que não foi convidado para este ministério.
Pode até ser confirmado, mas, certamente, seu nome passou por vários corredores restando ao presidente eleito avaliar o resultado. Isto, no entanto, só se saberá depois da diplomação, se for mesmo esse o propósito de Lula até o dia 12.