A praça é nossa
Parceria para manutenção de próprios públicos é positiva, pois garante a qualidade dos espaços ocupados pela comunidade
A ação de voluntários na recuperação de uma pequena praça na entrada do Bairro Santa Cecília é um gesto emblemático em tempos em que o serviço público se encontra com o caixa combalido e incapaz de cumprir todas as demandas exigidas pela comunidade. Os moradores entenderam que, em vez de abandonar, melhor é cuidar, sobretudo quando é a própria comunidade beneficiada.
Há, certamente, os que entendem que a população já paga impostos suficientes para receber os serviços, mas entre o ideal e o real há uma distância abissal. Em todos os níveis, a instância pública tem dificuldades para devolver ao contribuinte os recursos que este sistematicamente paga, bastando ver as filas em postos de saúde e a segurança ainda precária. Esperar o Estado, em situações como a manutenção da praça, é um dado a ser superado.
Em Juiz de Fora, já há legislação permitindo a adoção de praças por empresas privadas, como deve acontecer em breve no Bairro Bom Pastor. Espera-se que outras tenham o mesmo destino, a fim de garantir que tais espaços sejam, de fato, adequadamente utilizados. Hoje, em regiões ermas, principalmente, as praças tornaram-se pontos de droga e sexo. Tais cenas, destaque-se, ocorrem tanto no Centro quanto na periferia.
No seu primeiro mandato, inaugurado em janeiro de 1983, o prefeito Tarcísio Delgado importou de Joinville, Santa Catarina, uma experiência de sucesso de seu colega de Câmara dos Deputados, Luiz Henrique, que mais tarde viria a governar o estado. Com participação ativa da comunidade, os mutirões tornaram-se uma ferramenta de recuperação de espaços públicos e de limpeza. Se o modelo tivesse tido continuidade, os números da dengue em Juiz de Fora, certamente, seriam bem menores.
A experiência formalizou a parceria público-privada, dando, sobretudo às praças, uma nova cara, indicando que, em boa parte das ações, a comunidade tem mais meios de agir do que o próprio Governo, desde que este, pelo menos, fique responsável por equipamentos e incentivos, que podem ser até mesmo uma possível isenção fiscal nas áreas em que o serviço foi realizado adequadamente.
Embora o termo faça tremer as equipes econômicas, tais ações se fazem necessárias em várias frentes, e não apenas para atrair investimentos. Em tempos de menos Estado, este, por seu turno, deve facilitar a ação de terceiros.