Eles se matam


Por Tribuna

28/08/2016 às 07h00

O Mapa da Violência 2016 – Homicídios por armas de fogo no Brasil, coordenado pelo sociólogo Julio Jacobo Waiselfsz, é revelador de a quantas anda a violência no país, que, já há algum tempo, deixou de ser “patrimônio” das grandes cidades. Municípios de médio e pequeno porte também estão recheados de ocorrências que mudaram a sua rotina, como é o caso de Juiz de Fora. Há cerca de 15 anos, a média de crimes consumados contra a vida era em torno de um por mês; hoje, como mostram os dados levantados pela Tribuna, a proporção cresceu em doses geométricas. Setembro nem chegou, e a cidade já registra 103 ocorrências, numa média superior à do ano passado.

O levantamento encabeçado pelo professor Júlio Jacobo oficializa, também, o que já se percebe aqui: a maioria das vítimas se situa na faixa de 15 a 29 anos, formada por homens, com expressiva participação, entre as vítimas, de pessoas negras ou pardas. São muitas as explicações, mas fica claro que o Estado, como ente provedor da segurança, está falhando em suas ações, não pelo viés repressivo, que funciona, mas na falta de políticas públicas para atuar preventivamente no problema. E o que se vê é um silêncio da sociedade, sobretudo por endossar a tese de que vítimas e autores têm algo em comum. É recorrente o discurso: “eles estão se matando”. Só que não se leva em conta que nesta lista também há inocentes, que pagam por terem apenas laços familiares ou de amizade com algum infrator.

O combate à violência é um desafio para os governos em todas as suas instâncias, pois, como saúde e educação, demanda recursos intensivos. Hoje, os equipamentos são defasados, e a política salarial, perversa para quem vive o risco diário da profissão. Mais ainda faltam investimentos para elaboração de políticas de viés social, capazes de tirar do crime os jovens que veem nele a sua única saída ou ponto de identificação. Quando surgem experiências de sucesso, como a da jovem judoca brasileira Rafaela Silva, que ganhou medalha de ouro nos Jogos Olímpicos, a despeito de vir de uma comunidade carente, as autoridades celebram, mas são poucas as que usam o exemplo para disseminar tal experiência.

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