O julgamento de Bolsonaro e a disputa presidencial
Decisão do Supremo Tribunal Federal terá influência na disputa presidencial
O discurso do ex-presidente Jair Bolsonaro, após o Supremo Tribunal Federal transformá-lo em réu pelos atos golpistas, é indicativo de uma disputa presidencial novamente polarizada em 2026. Além das naturais críticas aos seus julgadores, ele também se apresentou como vítima de um processo, que, no seu entendimento, tenta tirá-lo do páreo. As redes sociais foram pródigas em discutir o tema: a base deu ênfase ao caso sob a hashtag “bolsonarotemrazão”, enquanto seus críticos comemoraram a decisão do STF.
A Primeira Turma não definiu a data do julgamento, mas este, por ocorrer bem mais próximo da sucessão, aumentará a temperatura na campanha eleitoral, sendo o ex-presidente candidato ou não. Sua estratégia de ser candidato, mesmo já estando impedido por lei, faz sentido, pois o mantém como principal player da oposição.
Haverá uma mescla de campanha e de articulação para conseguir a absolvição. A despeito da decisão unânime dos ministros, há apostas em torno do ministro Luiz Fux, que pode abrir divergências. No entanto tudo indica que ele está mais incomodado com a condenação a uma pena de 14 anos da cabeleireira Débora Rodrigues do Santos – responsável por pichar a estátua “A Justiça”, que fica em frente ao STF – do que com o ex-presidente.
Este, aliás, é um ponto que chama a atenção por conta dos desdobramentos. A condenação de 14 anos indica penas mais duras para os demais envolvidos, sobretudo os do alto escalão. Por outro lado, há quem entenda que faltou razoabilidade ao ministro Alexandre de Moraes, embora ele argumente que a pichação foi o de menos. O peso está na participação do evento. Mesmo assim, há controvérsia.
A decisão do STF foi apenas o primeiro ato de uma série de eventos que vão se estender até o fim do ano. O processo será longo e vai mobilizar as atenções. Após o veredicto, começa uma nova jornada, pois o resultado, seja ele qual for, será levado aos palanques.
Se a polarização perdurar, o que é o mais provável, de novo o projeto de uma candidatura de centro tende a ser adiado. Ao falar do futuro do PSDB, o deputado Aécio Neves defendeu uma aliança com partidos de perfil moderado. Tal perfil compromete até mesmo uma aproximação com o Republicanos, que tem o pé em duas canoas. Tem ministro no Governo Lula, mas também tem políticos da oposição, como o governador de São Paulo, Tarcísio Freitas.
A tentativa do caminho do meio já tinha fracassado em 2022 e, certamente, terá que esperar, uma vez que Bolsonaro, sendo candidato ou não, estará numa das pontas da corda. Na outra, também sendo candidato à reeleição ou não, o presidente Lula terá o mesmo peso.
Ao fim e ao cabo, o julgamento e seus desdobramentos já pautam a eleição de 2026, formando um cenário em que não há espaço para uma terceira opção.