Entre as várias discussões sobre a recente prisão do ex-ministro Paulo Bernardo, membro do primeiro escalão dos governos Lula e Dilma, está a de que a ação da Polícia Federal teve o viés político para ajudar o presidente em exercício Michel Temer. Tal linha de raciocínio faz pouco da inteligência popular, por serem situações distintas. Trata-se de uma investigação com mais de um ano, quando, ainda, não se falava na queda da presidente da República e sua substituição pelo vice. Aliás, em 2015, o Governo, na tentativa de conservar a aliança estratégica com o PMDB, fazia abertos agrados ao vice-presidente. Isto posto, a prisão de Bernardo faz parte de um enredo de benefícios com recursos de terceiros que agora são explicitados pelas investigações.
Nesse aspecto, ainda há muito para investigar. Poderosas instituições, algumas delas, hoje, apresentando prejuízos, tiveram arrecadações fantásticas, em nome de contribuintes que viam nelas uma garantia para o futuro. Quando o Ministério Público e a Polícia Federal abrirem a caixa preta dos fundos de pensão, certamente, haverá surpresas, desagradáveis, mas capazes de mostrar, mais uma vez, o uso indevido do dinheiro de terceiros.
Por isso, o discurso de uso político da Lava Jato já não se sustenta, por estarem na alça de mira das investigações atores de diversas tendências partidárias, não havendo monopólio absoluto deste ou daquele partido, embora alguns sobressaiam, em função da ocupação de espaços que adotaram nos últimos anos. O PT e o PMDB, durante vários mandatos, como parceiros, encabeçam a lista, mas outras gestões, como as do PSDB, também estão em xeque, pois a corrupção não começou na gestão petista, apesar de prevalecer a tese de que, a partir daí, ela se aprimorou. Só que, na hora de se cobrar a conta, não vale esse argumento. Todos, agindo mais ou menos, têm que prestar suas contas.