Causas e consequências
Divisões internas nos partidos fazem parte da rotina, mas, quando colocam em risco projetos importantes, é preciso avaliar com cuidado os danos colaterais
Brigas internas nos partidos não são novidade nem aqui nem em qualquer parte do mundo, sobretudo quando os interesses vão além do processo ideológico. A história é recheada de embates, alguns de grande notoriedade, que podem ser confundidos até mesmo com o processo democrático, pelo qual todos têm direito a manifestar suas intenções. Mas sempre há consequências. Nos tempos da ditadura, para abrigar as divergências, tanto a Arena – da base do Governo – quanto o MDB, que representava a oposição, instalaram sublegendas.
Em 1976, quando o professor Francisco Antônio de Mello Reis ganhou a Prefeitura de Juiz de Fora, tinha como parceiros o empresário Osmar Surerus, na Arena 2, e o dirigente do cartório que leva o seu nome, Waldir Bessa, na Arena 3. Na ocasião, o MDB só lançou duas candidaturas: a de Tarcísio Delgado e a de Sérgio Olavo Costa. Na soma, a Arena ganhou e ainda fez a maioria de dez a nove na Câmara Municipal, que só valeu até a posse, pois, na eleição da Mesa Diretora, o vereador Wilson Jabour, da Arena, abriu dissidência e foi eleito presidente com os nove votos do MDB. Como o voto era secreto, escapou da cassação do mandato por infidelidade partidária.
O que ora ocorre em Brasília com o PSL, segundo maior partido na Câmara Federal, é um retrato da estratificação dos partidos, com raras exceções dos que têm conformação ideológica. São autênticas federações, cuja formação é resultado de um discurso de momento. No caso, a expressiva maioria foi eleita por conta do presidente Jair Bolsonaro, seu principal eleitor. O PSL, porém, não está sozinho, uma vez que outras siglas também são comandadas com mão de ferro por articulistas que se especializaram em formar legendas aproveitando a fragilidade da legislação. O fim das coligações proporcionais é um antídoto, mas ainda insuficiente para reduzir o número de partidos a patamares razoáveis.
O risco desses impasses está perto do Congresso, mas do outro lado da Esplanada. As medidas econômicas, que carecem de implementação, correm o risco de encontrar mais dificuldades do que o esperado em razão da instabilidade da base do Governo. A reforma da Previdência pode ser uma página virada depois da apreciação do Senado, mas o ministro Paulo Guedes tem pretensões mais ousadas. Quer votar, provavelmente ainda este ano, a reforma tributária e a reforma administrativa. Ambas vão carecer de grande articulação no Parlamento, algo difícil na atual conjuntura em virtude da falta de interlocutores.