ABAIXO DO EQUADOR
O episódio envolvendo os nadadores americanos, que mobilizou o noticiário dos últimos dias, ofuscando até mesmo as medalhas conquistadas ao curso da semana, é o típico caso criado por personagens que se sentem acima do bem e do mal, verbalizando uma arrogância própria de quem considera os países abaixo do Equador mero quintal para suas mazelas. Forjaram um assalto para se livrarem de um flagrante de vandalismo, e sabe-se lá mais o que, sem ter a mínima preocupação com os danos que causariam à imagem do país e ao próprio orgulho da população. Há problemas, é fato, a violência é uma realidade, mas jogar essa imagem para o mundo como mero exercício de escapismo é algo grave que merece um desfecho que aponte, sobretudo, para os riscos de meras mentiras, que podem ter graves consequências.
Quando comunicaram o suposto assalto, os atletas tiveram respaldo da mídia, sobretudo americana, que não mediu espaço para dizer que o Rio, especialmente, é um centro de violência. Acertou no conteúdo, mas errou no fato, pois o relato não condizia com o que tinha acontecido. Houve reconsiderações, mas alguns meios ainda tiveram a ousadia de perguntar o que os brasileiros queriam ao se mostrarem tão indignados. Talvez um simples pedido de desculpa dos autores da confusão, e não do Comitê Olímpico, que já o fez, mas o principal, porém, é indicar que não se pode criar fatos sem medir as consequências. Tal episódio, lamentavelmente, é uma rotina na sociedade moderna com suas redes sociais. Nesta, o tráfego de inverdades é comum, também sem avaliar as consequências.
E, de novo, voltamos ao episódio da explosão de um dos paióis da Imbel. As fotos e os relatos do que teria ocorrido foram a prova material desses novos tempos. Imagens retiradas de outras tragédias e noticiário apontando mortos e feridos, e ainda imputando a um meio de comunicação, não podem ficar impunes, sob o risco de se perder o fio da meada das relações entre pessoas. Tais situações não são rotina. São vandalismo em alta escala, que desconstroem projetos e criam insegurança coletiva.