Meu pirão primeiro
A aprovação do ministro Alexandre de Moraes para o Supremo Tribunal Federal, ontem, no Senado, por 55 votos a 13, encerra uma etapa do debate que se estabeleceu nos últimos dias, mas não fecha a agenda de polêmica nas instâncias de poder. A imunidade parlamentar, que se tornou motivo até de declarações que comprometem o decoro parlamentar, como as do senador Romero Jucá, saiu da pauta, mas continua pairando nos bastidores do Congresso. Como ninguém sabe, ainda, quem está na lista da Odebrecht e das demais construtoras que vão abrir o jogo, criou-se a cultura do salve-se quem puder. Romero disse textualmente: “Se acabar o foro, é para todo mundo. Suruba é suruba. Aí é todo mundo na suruba, não uma suruba selecionada”. Uma bela peça retórica vinda de um parlamentar que não leva muito jeito com as palavras, mas que sabe lidar nos bastidores, sendo governista em todas as gestões, desde Fernando Henrique, passando por Lula e Dilma, e chegando a Michel Temer.
A tentativa dos políticos de criar uma blindagem é um passo atrás, pois, se havia necessidade na ditadura de protegê-los de voz e voto, não faz sentido dar outras garantias. O que se coloca em pauta, agora, com as denúncias dos executivos das construtoras, não é o que um senador ou deputado falou ou deixou de falar, e sim o uso indevido das relações entre público e privado, fazendo do posto um meio de obter vantagens pessoais ou para determinados grupos. A transparência tornou-se uma questão fundamental para garantir não só o acesso à informação pela população mas também o exercício do mandato dos políticos que não têm o que esconder.
Por conta disso, é mister a divulgação dos nomes envolvidos nas delações premiadas, a fim de mostrar à sociedade quem é quem nesse enredo e punir os que fugiram do viés republicano da função. A blindagem, pois, seria inoportuna em tais situações, própria de quem, em não havendo farinha para todos, coloca o seu pirão primeiro.